A Unicamp abriu nesta terça-feira (14) uma licitação para comprar um radar capaz de prever eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de Campinas (RMC). O valor do equipamento é estimado em R$ 6 milhões e a expectativa é de que o funcionamento comece em março de 2024.
O equipamento será adquirido por meio de um acordo com a Agemcamp, autarquia estadual que atua para integrar ações de comum interesse dos 20 municípios integrantes da região, e as operações serão feitas pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas da universidade (Cepagri). Veja abaixo detalhes.
Mudança de valor
Ao g1, a pesquisadora do Cepagri Ana Ávila explicou que inicialmente o valor total estava previsto em R$ 3 milhões, contudo, esta era uma projeção divulgada a partir de discussões que começaram a ser realizadas em 2018. O valor de investimento dobrou, segundo ela, por conta de atualizações no período que contemplam alta nos preços de peças, mudança na cotação do dólar e ajustes técnicos.
Segundo ela, agora R$ 3 milhões serão aplicados pela Agemcamp e o restante será complementado pela Unicamp. “Tem quatro empresas que representam estes radares no Brasil [característica de banda X com dupla polarização], então são totalmente importados, nada é fabricado aqui no país.”
A publicação feita no Diário Oficial do estado de São Paulo destaca que o pregão presencial sobre o radar será no dia 9 de março em auditório da Unicamp no campus de Campinas (SP).
Como vai funcionar?
Atualmente, o Cepagri e a RMC não têm radar, considerada a ferramenta mais eficaz para ajudar a prever eventos extremos. O mais próximo é um da Força Aérea Brasileira, em São Roque (SP).
O debate sobre a compra do futuro equipamento, lembrou a pesquisadora, ganhou força depois que Campinas registrou o fenômeno climático da microexplosão em junho de 2016: a chuva forte e o vento com velocidade superior a 100 km/h provocou um rastro de destruição na metrópole.
Atualmente, as previsões do tempo são realizadas a partir de modelos numéricos para dias, enquanto as estações meteorológicas fazem monitoramento. Já os radares oferecem dados imediatos sobre horas posteriores. “Os modelos são baseados em complexas equações matemáticas que descrevem física da atmosfera e simulam as condições de tempo futuro, e as estações medem as condições de chuva, temperatura e pressão atmosférica. O radar pode fazer uma varredura a cada dez minutos”.
De acordo com a pesquisadora, o futuro radar permite um sistema de avisos e alertas com alta resolução espacial e temporal e será uma força auxiliar na formulação das políticas de prevenção e enfrentamento a eventos extremos. A previsão é de fornecer dados para a Defesa Civil e subsidiar pesquisas desenvolvidas pela universidade sobre o clima, agricultura e recursos hídricos.
“A gente pode ampliar e melhorar a previsão do tempo com algumas horas de antecedência. Mesmo que os fenômenos tenham uma formação extremamente rápida, a gente consegue ter uma ferramenta para dar alertas mais assertivos, evitar os falsos […] identificar os fenômenos, a intensidade, mapear as áreas onde atingiu”, falou Ana Ávila sobre a necessidade de ampliar ferramentas de comunicação para fortalecer a cultura voltada para a proteção das pessoas.
Segundo ela, porém, nem todos os fenômenos conseguem ser contemplados pelo futuro radar por conta de características próprias, como eventual tornado e a própria microexplosão.
“São eventos extremamente rápidos. Muitas vezes o radar será uma ferramenta para ajudar a diagnosticar o fenômeno. É difícil a previsibilidade […] mas precisamos estar preparados para mitigar efeitos de eventos severos, como enchentes e tempestades.”
O equipamento com peso estimado em 3 toneladas ficará na área experimental do Cepagri, em frente ao Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, sobre uma torre de dez metros, diz Ana Ávila.
O que diz a Agemcamp?
O diretor-executivo da Agemcamp, Benjamim Bill Vieira de Souza, enfatizou a qualidade do radar que será comprado. Os recursos para compra foram disponibilizados pela agência por meio do Fundo de Desenvolvimento (Fundocamp), que financia programas e projetos de interesse da RMC.
“Teremos um equipamento de primeira linha, nos mesmos padrões de resposta e alerta dos equipamentos dos Estados Unidos […] Nosso propósito é entregar resultados efetivos à sociedade.”