Disparou neste início de ano o número de pessoas com sintomas de leptospirose que iniciaram tratamento contra a infecção em Campinas (SP). A doença – assim como a febre maculosa – tem evolução rápida e 50% de risco de morte para casos graves, por isso a medicação precisa ser tomada o quanto antes.
A bactéria que causa a doença é transmitida pela urina do rato, que pode estar presente em alagamentos e enchentes, principalmente durante o período de chuvas.
Dados do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) apontam alta de 332% em registros de moradores que relataram sintomas e exposição a áreas de risco de contaminação, e já iniciaram a medicação, entre janeiro e fevereiro.
“Tanto áreas alagadas e inundadas quanto a lama residual podem conter a bactéria leptospira, causadora da leptospirose. O risco no caso das inundações pode se dar em grande parte em decorrência da exposição de maior superfície corporal. Por outro lado, a lama residual pode vir a apresentar uma maior concentração da leptospira”, explica o infectologista da Secretaria de Saúde de Campinas, Rodrigo Angerami.
Pacientes em tratamento desde relato de sintomas
- Período: 1 de janeiro a 23 de fevereiro
- 2023: 95 notificações de sintomáticos – 73 casos em investigação e 22 descartados
- 2022: 22 notificações de sintomáticos – 5 casos se confirmaram
- Aumento de 332%
Exame demora até 2 semanas
Segundo o infectologista, o resultado dos exames de sangue realizados para concluir o diagnóstico demora até duas semanas para ficar pronto no Instituto Adolfo Lutz. Por isso é importante iniciar o tratamento imediatamente, que dura em média sete dias em casos leves. Até 50% dos casos graves terminam em morte.
“Felizmente na maioria dos casos a forma clínica pode ser considerada de leve a moderada, com evolução benigna e, via de regra, sem necessidade de internação. No entanto, entre 15% e 20% dos casos evoluem para formas graves”.
O funcionamento de órgãos pode ser afetado, como rins, fígado, coração e pulmões, sendo necessária uma internação hospitalar.
“Podem vir a ser necessários cuidados intensivos com hemodiálise e necessidade de ventilação pulmonar com a ajuda de aparelhos, podendo o risco de evolução para o óbito, ou seja, a letalidade, chegar à 50%.”
Sintomas mais comuns
- Febre
- Dor no corpo
- Dor de cabeça
- Náusea
- Vômitos
Sacolas plásticas ajudam a prevenir
Angerami destaca que, se possível, o ideal seria evitar o contato com água e lama em enchentes, alagamentos e inundações. No entanto, ele reconhece que em muitos casos, as pessoas são surpreendidas e têm exposição inevitável até chegar a uma área seca.
“Quando há o contato, o que se recomenda é substituir a roupa molhada e higienizar todo o corpo, com banho de água e sabão. No caso da lama, as pessoas devem evitar o contato direto da pele e mucosas, preferencialmente, utilizando botas e luvas, mas quando não for possível utilizando sacos plásticos nos pés e eventualmente mãos”, orienta o infectologista.
Leptospirose ou febre maculosa?
Os sintomas mais comuns da leptospirose são semelhantes aos da febre maculosa, que também precisa de tratamento precoce. Por isso, uma das medicações possíveis vale para as duas doenças, a doxiciclina. Os remédios para combater as duas doenças estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
No entanto, os profissionais de saúde devem estar atentos ao local de exposição à infecção onde o paciente esteve em até um mês.
Pode ser febre maculosa se:
- foi picado por carrapatos,
- frequentou áreas onde possa ter sido parasitado por carrapatos, como mata e pasto,
- esteve próximo a animais que possam ser hospedeiros, como cavalos e capivaras,
- áreas de vegetação próximos a rios, lagos, lagoas, são fatores de risco relevantes.
Pode ser leptospirose se:
- teve contato com excrementos de roedores, com urina e fezes de outros animais,
- teve contato com esgoto, água de córregos, enchentes e inundações,
- frequentou áreas onde pode haver a presença de roedores, como locais com lixo e materiais inservíveis.
Chuvas e enchentes aumentam incidência
Outros estados também têm sofrido com alta no número de pessoas sintomáticas e também casos já confirmados e mortes. A incidência aumentou por conta das fortes chuvas que têm provocado enchentes e alagamentos.
No Rio de Janeiro, um adolescente contaminado morreu nesta segunda-feira (27). Ele teve contato com a bactéria ao ajudar a mãe em um alagamento.
No Brasil, o Ministério da Saúde apontou alta de 70% no número de óbitos provocados pela doença entre 2021 e 2022.
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