Uma mulher que acusa o líder espiritual Eduardo Santana de abuso sexual revelou como o suspeito teria usado a religião para controlar, manipular e assediar as vítimas. O suspeito foi preso no sábado (18), em Hortolândia (SP), e 14 pessoas já procuraram a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para fazer denúncias.
Sob condição de não ser identificada, a mulher deu entrevista exclusiva para a EPTV, afiliada da TV Globo, nesta segunda-feira (20). “Ele passava a mão nas meninas na frente de todas as pessoas”, afirmou.
“Ele sempre se mostrou uma pessoa muito inteligente, muito estudada que fazia coisas com muita sabedoria. Ele vinha, se aproximava muito. E ele ia controlando a nossa cabeça do jeito que podia”, afirmou a denunciante.
“Ele se metia em tudo. Por exemplo, a gente tem um emprego e ele fala: ‘Não, esse emprego não está legal, você vai sair'”. O mesmo ocorria quando ele não concordava com o relacionamento de algum dos fiéis que frequentavam o terreiro umbandista que ele gerenciava.
“Como se fosse uma seita. Tudo deveria passar primeiramente por ele”, resumiu a mulher.
O g1 tenta localizar a defesa do Eduardo Santana.
‘Acreditamos que isso era a religião’
A mulher afirma que, para manipular as vítimas, o suspeito impedia que elas frequentassem outros terreiros ou conversassem com pessoas de outros templos.
“A gente esteve nesse cenário acreditando que aquilo era a religião. (…) “Ele usava a espiritualidade para colocar medo nas pessoas, para que as pessoas temessem ele e o que poderia acontecer com elas”.
Ao isolar os frequentadores, ele normalizava situações de abuso, denunciou a vítima. “Esses rituais que ele dizia que precisava fazer, ele fazia só com mulheres. Nunca precisou um homem fazer algo assim”.
Em um dos casos, segundo a vítima, o homem teria falado para outra mulher que ela tinha que se relacionar sexualmente com ele para que um espírito saísse do corpo dela.
Novas denúncias
A DDM foi contatada por mais quatro mulheres que relatam terem sido vítimas do líder espiritual. A informação foi confirmada pelo delegado José Regino Melo Lages Filho nesta segunda (20).
Lages Filho afirmou que as quatro novas supostas vítimas entraram em contato pelo WhatsApp da DDM, cujo número é (19) 3887-1701. Agora, os investigadores vão agendar, para os próximos dias, os depoimentos dessas mulheres. No total, 14 pessoas já se apresentaram como vítimas.
Destas, 10 foram ouvidas: são oito mulheres, uma adolescente de 16 anos e um homem que acusa Eduardo Santana de injúria racial.
O líder espiritual de 36 anos foi preso na tarde de sábado por suspeita de abusos sexuais contra pelo menos oito mulheres em Hortolândia (SP). Além disso, ele também teria cometido os crimes de injúria racial e homofobia contra um homem.
O mandado de prisão foi expedido pela 1ª Vara Criminal da cidade. Com ele em mãos, a Polícia Civil foi a um endereço no bairro Jardim Terras de Santo Antônio e prendeu Santana, conhecido como Pai Du, enquanto ele se preparava para realizar uma sessão religiosa.
“As vítimas manifestam que, durante rituais, ele induzia elas a praticar atos libidinosos. Relatam que em um dos rituais ele combinava um horário por volta da meia-noite em um riacho, uma cachoeira, e arrancava as roupas das vítimas, rasgava. As vítimas alegam que ele passava a mão nas partes íntimas delas”, informou o delegado.
Ainda de acordo com Lages Filho, os crimes teriam acontecido no ano passado e uma das vítimas relatou que praticou relação sexual com o homem. As investigações começaram cerca de duas semanas antes da prisão dele.
Aos policiais, o suspeito disse que já responde a um processo por assédio em Americana (SP), mas disse que não sabia das outras nove denúncias. Ele, no entanto, não ofereceu resistência ao ser preso. O homem foi levado à cadeia de Hortolândia e depois transferido à cadeia pública de Sumaré (SP).
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