Como montar um currículo sem nunca ter trabalhado? É preciso colocar o cargo ou objetivo em todos os documentos? Essas são algumas dúvidas que trabalhadores têm na hora de preparar o currículo, que é o cartão de visitas de quem está em busca do primeiro emprego.
“O mais importante é ser objetivo e sucinto. A pessoa tem que pensar que através desse documento ela será chamada para uma entrevista”, afirma Flávia Mentone, especialista em recolocação e sócia da Reponto – Estratégia em Seleção.
Segundo Flávia, os candidatos devem adequar o currículo ao tipo de anúncio ou plataforma em que as informações serão cadastradas. Em um site de empregos, o currículo pode ser mais genérico, já que não é possível saber quais empresas vão procurá-lo. Por outro lado, ao enviar o documento diretamente para a companhia, o ideal é prepará-lo somente para a vaga em questão.
Veja dicas para preencher cada etapa do currículo:
1 – Dados pessoais
O início do currículo deve apresentar o profissional, com nome completo, endereço com CEP, cidade, celular, telefone para recados (caso tenha) e e-mail. Não é necessário colocar idade, sexo e estado civil. Para candidatos que tiverem perfil no LinkedIn, é indicado colocar o link do endereço com as informações profissionais.
2 – Objetivo
Neste tópico, os profissionais precisam escrever de forma direta para que a empresa veja qual é a posição de interesse. Os candidatos não devem colocar diversos objetivos juntos.
Se for primeiro emprego, pode escrever “Primeiro Emprego.” É comum, nesse caso, não saber em qual área queremos trabalhar.
3 – Resumo de qualificações
É importante que os candidatos aproveitem esse espaço para colocar informações positivas sobre sua carreira. O objetivo é chamar atenção para que o recrutador leia o currículo até o final. Nesse item, o profissional deve pensar quais habilidades, conhecimentos e experiências seriam positivos para a posição e companhia. A partir dessa resposta, é possível selecionar o que será colocado no resumo. No caso do primeiro emprego, não precisa colocar esse tópico.
4 – Formação acadêmica
O candidato deve colocar o último grau de escolaridade que possui, ou seja, quem não tem nível superior deve citar o nível médio, e assim por diante. Profissionais com MBA, pós-graduação ou curso técnico devem mencioná-los. A descrição deve ter o nome da instituição, curso e ano ou previsão de término.
5 – Experiência profissional
Candidato sem experiência pode citar eventuais trabalhos em empresa júnior ou no centro acadêmico da faculdade, colocando as atribuições e responsabilidades que tinha.
6 – Cursos complementares
Cursos extracurriculares ou de curta duração e workshops podem ser informados. É importante mencionar o nome da instituição, mês e ano de início e término e carga horária.
7 – Idiomas
O candidato precisar ser honesto e indicar seu real conhecimento do idioma, já que o recrutador poderá testá-lo durante a entrevista. A fluência pode ser categorizada como: básico, intermediário, avançado e fluente.
8 – Informática
O profissional pode informar seus conhecimentos em cada programa e categorizá-los. Quem fez curso na área pode colocá-lo seguindo o padrão usado nos cursos complementares.
9 – Outras informações
Neste campo, o candidato pode informar experiências internacionais e trabalhos voluntários. Atividades feitas fora do horário de trabalho podem ser citadas, desde que tenham relação com o emprego ou destaquem as qualidades do profissional. Certificações que sejam relevantes para a vaga também podem ser colocadas nesse campo.
10 – O que não colocar
- Foto (Só deve ser enviada quando empregador solicitar)
- Número de documentos
- Título “currículo vitae” ou “currículo”
- Pronomes pessoais (em vez de colocar “eu desenvolvi um projeto” substitua por “desenvolvimento de projeto”)
- Informações negativas (profissionais que não possuem algum tipo de conhecimento não devem colocar essa informação. A melhor opção é não informar nada)
- Nome de pais, marido ou esposa e filhos
- Referências pessoais (contatos de pessoas que podem falar sobre o profissional não devem ser indicados)
- Motivo de saída de empregos anteriores
- Pretensão salarial
- Cartas de referência
- Certificados de cursos realizados
- Data e assinatura
Primeiro emprego x experiência
“Cada profissional tem seu ponto forte e é isso que deve ser destacado”, ressalta Flávia Mentone. Os jovens que estão em busca do primeiro emprego podem destacar sua formação acadêmica, conhecimento em idiomas ou informática e atividades voluntárias.
Segundo ela, é preciso exercitar o autoconhecimento para descobrir suas habilidades. “Uma dona de casa, por exemplo, pode não ter trabalhado em uma empresa, mas tem que ser organizada para fazer um planejamento doméstico ou para mexer com fluxo de caixa.”
Objetivo profissional
Colocar o cargo pretendido ou objetivo é indicado quando os profissionais enviam o currículo diretamente para a empresa ou uma vaga específica. Os interessados devem mostrar interesse pela posição e que têm os requisitos necessários para preenchê-la. Já quando o trabalhador faz o cadastro em um site ou centro de empregos, ele pode elencar algumas funções em que já tenha atuado ou que tenham relação com sua formação.
Informar que está à disposição da empresa não é bem visto pelos recrutadores, alerta Flávia. “Isso vai passar a impressão de que o profissional quer qualquer coisa. Ele pode aceitar novos desafios, mas isso não quer dizer qualquer posição.”
A especialista ressalta que o objetivo deve variar de acordo com a vaga pretendida. “Geralmente o ideal é colocar o cargo para o qual a pessoa está se candidatando”, diz Flávia. Outra opção é não colocar o objetivo e destacar suas habilidades para a posição na carta de apresentação.
Em relação aos estagiários, o recomendado é colocar a área de interesse de atuação, já que eles passarão por diversas áreas na empresa. Como o candidato não tem experiência, é comum não saber o objetivo. Por isso, a especialista em recolocação indica que o candidato a estágio coloque da seguinte forma: Área de interesse: estágio em administração de empresas; estágio em engenharia etc.
“Caso a pessoa não tenha clareza do objetivo, é melhor não colocar nada”, afirma Flávia.
Apresentação do currículo
Erros de português são inaceitáveis no currículo. Quem tem um currículo ou o perfil no LinkedIn em inglês deve tomar o mesmo cuidado.
O candidato também precisa ter cuidado com a fonte do texto, escolhendo uma tradicional (Arial ou Times New Roman), e até com o tipo de papel usado para impressão, que deve ser A4. O ideal é que o documento tenha, no máximo, duas folhas. Segundo Flávia, o candidato pode imprimir o currículo em frente e verso ou em duas folhas.
“Hoje é muito comum o candidato enviar o currículo pelo WhatsApp. Então, recomendo que o currículo seja em PDF porque a leitura fica mais nítida para o recrutador. Currículos em foto muitas vezes ficam ilegíveis”, alerta Flávia.
Outro ponto que merece ser destacado é o e-mail. Endereços eletrônicos com apelidos e nomes no diminutivo não devem ser colocados no currículo. O e-mail para contato profissional precisa ter somente o nome do trabalhador.
“É preciso ter uma postura profissional. O candidato deve ser visto pelas suas competências”, reforça Flávia.
A especialista em recolocação profissional lembra que os currículos podem ser feitos no Canva, que possui diversos templates prontos. “As áreas de comunicação, design gráfico e tecnologia e as startups valorizam currículos mais ‘moderninhos’, diz (veja ao final da matéria um modelo de currículo no Canva).
Nesse modelo de currículo, é possível colocar habilidades que são pertinentes à função. E nesse caso, colocar “software” no lugar de informática fica mais adequado. “Através desse modelo de currículo, o candidato pode mostrar um pouco da sua criatividade.”
Ordem do currículo
No caso da ordem de informações do currículo, o importante é destacar o que a pessoa tem de melhor no documento. “Se for uma boa experiência, comece pela experiência. Se for uma boa formação, mas não tem tanta experiência, coloque a formação em primeiro lugar”, explica Flávia.
Os cursos podem estar em ordem cronológica, mas devem ser destacados os que serão aproveitados na vaga. Exemplo: se a pessoa fez um curso de culinária pode até colocar no currículo se for para uma empresa de alimentos, por exemplo, mas não deve estar em destaque se estiver concorrendo para uma vaga de analista de recursos humanos.
Na questão dos idiomas, se a pessoa domina um idioma em nível avançado ou fluente, deve ser destacado porque é um diferencial – neste caso, pode ser colocado no resumo de qualificações. “Não precisa colocar duas vezes e repetir no tópico Idiomas. Entretanto, se a pessoa tem conhecimento intermediário ou técnico, pode colocar o tópico específico Idiomas e mencionar essa competência” diz a especialista.