Um dos principais ponto turísticos da Praia de Jericoacoara, no Ceará, a Duna do Pôr do Sol está quase desaparecendo. A formação, que já chegou a 60 metros de altura na década de 1980, hoje está reduzida a menos da metade disso e caminha para se tornar apenas um banco de areia na faixa da praia cearense. Estudos mostram que a deterioração da duna é natural, mas acelerada pela ação humana.
O fotógrafo e atleta de windsurf Hugo Albuquerque, de 26 anos, mora no local desde que nasceu e afirma que sempre observou a movimentação da duna em direção ao mar, porém nos últimos cinco anos o processo vem acelerando de forma assustadora.
“Desde criança a duna já vinha se movendo em direção ao mar em um processo natural causado pelo vento, mas claro que com o aumento do turismo acelerou um pouco. Nos últimos cinco anos foi muito rápido o processo de diminuição dela”, diz.
O atleta acreditava que o sumiço da duna demoraria muito mais tempo para acontecer e lamenta a perda do ponto turístico usado por tantos anos para admirar o entardecer com o pôr do sol.
“Há anos escuto que a duna do pôr do sol não vai mais existir, mas pensava que seria tipo uns 30 ou 40 anos, porém em menos de 15 anos consegui ver diminuir uma duna enorme que para conseguir chegar no topo dela você quase tinha um ataque cardíaco de tanto cansaço. É um ciclo de muitas histórias para mim e para pessoas que visitam. Ficam só as lembranças”, desabafa.
Impacto humano
Paulo Sousa, professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC) desenvolve estudo que contempla a Duna do Pôr do Sol. Ele conta que o desaparecimento contínuo tem relação com fatores naturais, como o vento e as marés, mas também com o impacto humano.
“É um processo natural, isso iria acontecer em algum momento. Ele só foi acelerado em razão do tipo de uso da Duna do Pôr do Sol. Esse processo do desaparecimento tem algumas décadas, alguns anos, e foi intensificado agora”, diz o especialista.
Na época, pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontavam que a migração da Duna do Pôr do Sol foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”, explica o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel.
Ele esclarece ainda que ao longo dos últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por alimentar as dunas, “perderam suas funções”.
O pesquisador reitera que os “corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da duna”.