Campinas, no interior de São Paulo, fica a pelo menos 170 km do litoral. Agora, imagine a cidade sendo banhada por um imenso oceano? Parece impossível, mas uma pesquisa da Unicamp revelou que existem indícios de que, há milhões de anos, existia um mar na região.
O professor Wagner Amaral, do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, começou esse estudo depois de um passeio de bicicleta pelo Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, como parte do projeto Geobike, onde o professor percorre de bicicleta trilhas em locais de difícil acesso, justamente para pesquisa.
Depois de localizar algumas rochas as análises começaram. Um microscópio eletrônico de varredura permitiu a identificação da composição química do mineral e das texturas presentes nas amostras e foram descobertas rochas de fundo oceânico em um trecho do parque, que podem estar associadas à evolução do supercontinente Gondwana (um supercontinente que existiu milhões de anos atrás, e continha o território onde hoje é o Brasil).
O professor explicou que, na região de Campinas, onde se localiza o Parque Ecológico, há muitos afloramentos de rochas que não haviam sido descritos anteriormente.
“As rochas do assoalho oceânico desceram para debaixo de uma outra crosta, a uma profundidade superior a 45 km, foram metamorfizadas em condições de alta pressão e, posteriormente, exumadas por processos geológicos que possibilitaram que fossem encontradas na superfície”, explica o docente.
Acredita-se que a idade das rochas chegue a aproxidamente 626 milhões de anos. Cálculos das condições de temperatura e pressão indicam que as rochas encontradas atingiram temperaturas próximas de 740°C.
A descoberta pode fornecer informações importantes sobre a história geológica do planeta, que mostra a formação de diversos supercontinentes e oceanos em ciclos de aproximadamente 450 milhões de anos – o chamado Ciclo de Wilson.
O estudo é importante também para a compreensão do processo de formação e evolução das rochas e da crosta terrestre.
(Fonte: Jornal da Unicamp)