Um esquema de roubo e furtos de caminhões na região de Campinas (SP), desmantelado na manhã desta quarta-feira (3) em uma operação da Polícia Federal, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Polícia Militar, tinha como foco principal a venda dos veículos para desmonte de peças. A quadrilha é responsável por dezenas de crimes, com provas de pelo menos 20 deles. Entenda abaixo o método em detalhes.
A informação do foco da associação criminosa é do chefe da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza, em coletiva nesta quarta. De acordo com o delegado, o grupo não tinha receptadores específicos porque o objetivo era passar o caminhão inteiro para frente o mais rápido possível. Por isso, o veículo era oferecido em grupos de Whatsapp e vendido para quem pagasse o maior valor.
“A especialidade era retirar o caminhão de circulação e repassar o veículo. Como o foco era só esse, eles furtavam caminhões todos os dias. A gente teve caso de um caminhão por dia, e em alguns momentos foram até seis caminhões por dia. A gente teve que retardar um pouco a operação, hoje, porque eles estavam trabalhando, furtando um caminhão em Sumaré que foi recuperado”, pontuou.
Ainda segundo a Polícia Federal, depois do roubo ou furto, os criminosos utilizavam uma técnica conhecida no crime de roubo de veículos como esfriamento. Como caminhões normalmente têm rastreador, eles deixavam a carreta em algum lugar, esperavam para ver se não ia aparecer ninguém para recuperar e só depois pegavam de novo.
No entanto, as polícias Federal e Militar não faziam a interceptação do caminhão de propósito, com o objetivo de identificar os integrantes da quadrilha. Além disso, os investigados também trocavam as placas das carretas, no meio da rua, e adulteravam o chassi, antes de vendê-las. Eles também tinham preferência por um modelo específico, pela facilidade de venda.
“Eles usavam roupas de assistência mecânicas ou de órgãos de placas mesmo para disfarçar a troca dessas placas no meio da rua e só depois fazer a venda desses caminhões. A chance de um receptador comprar um caminhão sem saber que é roubado é zero”, completou o delegado.
O próximos passo da investigação agora é, além de encontrar os responsáveis pela adulteração da placa, identificar outros integrantes do grupo criminoso e os receptadores. “Não havia uma formação sólida. Eles levantavam quem estava disponível para trabalhar no dia e colocavam a pessoa para furtar caminhões. A principal dificuldade é delimitar quem são os participantes realmente”, explicou.
A operação
No total, foram cumpridos 21 mandados, sendo 12 de prisão temporária e nove de busca e apreensão, em Campinas, Hortolândia (SP) e Sumaré (SP). As ordens foram expedidas pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Hortolândia.
A operação recebeu o nome de “Insídia”, que significa emboscada e faz referência ao modo de atuação da quadrilha, que agia armada e fazia reféns.
Pelo menos 100 policiais, entre federais e militares, participaram da operação. Segundo a PF, a investigação começou em dezembro do ano passado, a partir de informações processadas pelo serviço de inteligência do grupo especializado em roubo de caminhões e de cargas da Polícia Federal em Campinas. Os crimes nos quais o grupo tem participação são:
Receptação
- 22.12.2022, em Extrema (MG);
Roubo
- 15.1.2023, em Campinas;
Furtos – todos em SP
- 26.1.2023, em Sumaré;
- 31.1.2023, em Hortolândia;
- 2.2.2023, em Sumaré;
- 6.2.2023, em Sumaré;
- 8.2.2023, em Nova Odessa;
- 16.2.2023, em Sumaré (tentativa);
- 18.2.2023, em Vinhedo (dois caminhões);
- 22.2.2023, em Campinas;
- 23.2.2023, em Sumaré;
- 24.2.2023, em Cosmópolis;
- 22.3.2023, em Sumaré;
- 2.4.2023, em Sumaré;
- 6.4.2023, em Hortolândia;
- 6.4.2023: em Sumaré;
- 10.4.2023, em Hortolândia;
- 11.4.2023, em Campinas;
- 13.4.2023, em Sumaré
Estelionato
- 24.2.2023, em Ribeirão Preto
Dos 12 mandados de prisão temporária, quatro deles foram cumpridos em presídios por conta dos investigados já terem sido preso em flagrante por receptação durante as investigações. O crime mais recente da quadrilha aconteceu na madrugada desta quarta.
Até a publicação, sete pessoas foram presas, além dos quatro alvos de mandados que já estavam detidos. Um homem ainda está foragido. O material apreendido e os presos foram encaminhados à Delegacia da Polícia Federal de Campinas e vão responder por associação criminosa, roubo, furto, receptação e estelionato, com penas que podem chegar a 30 anos de prisão.
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