Viviane de Salvi Munhoz tem apenas 12 anos, mas já sabe o que são crises de ansiedade. Normalmente, os sintomas, que vão desde o choro incontrolável à agitação, começam a se manifestar na adolescente quando ela se vê diante de situações desafiadoras, especialmente na escola.
“Quando é um assunto que eu tenho muito dificuldade, tipo matemática, eu fico muito nervosa e às vezes isso acaba me atrapalhando. Eu começo a chorar, falo que eu não vou conseguir, e eu fico agitada. Minha perna começa a tremer muito e eu não consigo”, conta Viviane.
Estudante de escola pública, Viviane é dedicada, sonha em ser advogada e conta com a ajuda da mãe para lidar com as emoções. Nos bate-papos, a dona de casa Fernanda Mari Salvi tenta mostrar à filha que é possível encontrar o equilíbrio entre os estudos e a saúde emocional.
“Eu prezo muito que eles estudem, que ela vá bem sim, mas que ela não precisa se matar. Que ela faça o necessário para ela, o que faça ela ficar bem. Eu converso, falo ‘não precisa ter medo, a escola não é um bicho de sete cabeças, a escola não é essa dificuldade toda’, porque isso na vida vai ter direto”, relata a mãe.
Sob pressão
Ainda que o conteúdo das aulas seja importante, muitas escolas têm percebido a importância de prestar atenção também às emoções das crianças e adolescentes. William de Camargo Corrêa, de 14 anos, já vivenciou uma crise de pânico em sala de aula, o que deixou pais e educadores em alerta.
“Foi uma coisa que, particularmente, eu nunca havia experienciado, então para mim instigou muito medo. […] Foi como se a minha visão começasse a ficar meio turva, comecei a depender muito de apoio, comecei a ficar desesperado e, repentinamente, quando eu vi, já estava dentro da crise com grande desespero em mim”, recorda o adolescente.
O estudante afirma que crises de pânico foi causada por pensamentos pessimistas e questionamentos, desencadeados pela leitura de um livro. Após perceberem que William precisava de ajuda, colegas chamaram a professora e ele foi levado à psicóloga da escola, com quem ele conversou sobre as reações aos estímulos externos.
Pai do adolescente, o médico veterinário William Alves Corrêa diz que as pressões estudantis são as maiores causas de ansiedade nos adolescentes, especialmente para aqueles que estão se aproximando do período de vestibular e de escolha da profissão.
“Por termos experienciado, transpassado por essas mesmas situações, a gente compreende bem e tenta sempre estar acolhendo, aberto ao diálogo, sempre aberto a estar trocando informações, explicando que já passamos por isso e sabemos como é”, pontua.
Herdeiros do mundo
Diante de tanta pressão, a importância de saber ouvir fica cada vez mais evidente para pais, responsáveis e educadores. No caso dos estudantes, conversar com alguém de confiança e externar os próprios sentimentos tem ajudado a amenizar a angústia.
Neste cenário, William Corrêa reforça a necessidade de união entre escola e famílias para garantir, além de educação, a estabilidade emocional e equilíbrio dos estudantes.
“A educação é um dos pilares essenciais para a formação de um cidadão, e eu digo educação num aspecto amplo, não apenas na questão de conhecimento didático. Muito em breve, a geração dele será a geração economicamente ativa, a geração que vai estar herdando o mundo. Eu acho que essa base forte vai ser o que vai dar a sustentação para uma sociedade cada vez melhor”, diz.