O peso pena virou peso pesado. O surrado trocadilho com categorias do boxe vem sendo usado para falar sobre o cantor mais ouvido no Spotify nas últimas semanas. Peso Pluma, rapper mexicano de 23 anos, tem seis das 50 músicas mais ouvidas na plataforma de streaming hoje, incluindo as duas primeiras posições.
“Ella baila solo”, no primeiro lugar da parada global, é sobre uma mulher dançando sozinha e sendo admirada por dois caras que ficam impressionados com a “cinturinha de modelo” dela.
Antes de cantar sobre festas e mulheres, como neste e em outros hits recentes, Peso Pluma era um artista do estilo narcocorrido: mistura do termo narco (traficantes de drogas) e corrido.
Corrido é o gênero surgido nos anos 1820, quando o México se tornou independente da Espanha. A ideia era contar histórias focadas nas disputas entre heróis de guerra e inimigos dos mexicanos. Os relatos tinham como trilha o som de instrumentos típicos do país como acordeón, violão, flauta, tambores e trompete. Era uma contação de causos belicosos ao som de mariachis, basicamente.
Nos anos 70, rappers começaram a fazer rimas exaltando o estilo de vida dos narcotraficantes. O estilo narcorrido, porém, passou a fazer mais barulho nos anos 80 e 90. Segundo a imprensa mexicana, o muso inspirador de Peso Pluma já foi Joaquin “El Chapo” Guzman, chefe do Cartel de Sinaloa, terra natal da mãe do rapper. Isso antes de ele passar a mirar apenas garotas em festas.
Agora, o corrido é romântico…
Hassan Emilio Kabande Laija nasceu em Zapopan, cidade mexicana da zona metropolitana de Guadalajara, mas cursou o ensino médio em San Antonio, no estado americano do Texas. O apelido Peso Pluna (ou peso pena, a categoria de peso mais leve em lutas) veio após uma conversa com o lutador Marco Antonio Barrera.
O rapper tem 1,70 metro e cerca de 67 quilos. O visual nada tem a ver com o estilo tradicional de quem canta música popular mexicana, associado ao figurino de cowboy com botas, chapéu e cinto chamativo. O cantor se veste com roupas largas e usa mullets com costeletas. O look é completado por tatuagens: uma para Al Capone (um pôster de “procura-se” do gângster, no braço) e outra para Tupac Shakur (a frase “All Eyez on me”, nome de um álbum do rapper, na clavícula).
O som vai pelo mesmo caminho. Peso Pluna gosta de falar que os tempos de narcorrido se foram e ele canta corrido tumbado: uma mistura da música tradicional mexicana com trap, reggaeton e hip hop sobre temas variados. Há letras sobre o tráfico, mas de modo mais geral. “Bye”, o single mais recente, é sobre uma noite de bebedeira e cigarros para esquecer de uma ex.
“Ella baila solo” tem versos sobre uma pessoa emocionada que vê uma mulher dançando sozinha e já imagina o dia em que vai conhecer a família dela. Embora o hit seja oficialmente do trio californiano Eslabon Armado com participação de Peso Pluma, o rapper se tornou a voz e o rosto deste novo corrido mais romântico do que polêmico.
“Ella baila solo” bateu recordes:
- primeiro lugar do ranking global do Spotify;
- quarto lugar do hot 100 da “Billboard”;
- primeira música mexicana no topo da parada de streaming da “Billboard”;
- música mexicana com mais audições em apenas um dia.
Peso Pluma também tem ótimas cifras:
- Oito músicas no hot 100 da “Billboard”;
- Seis músicas no top 50 global do Spotify;
- 14 billhões de views no TikTok;
- 48 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Antes do estouro neste ano, o rapper já havia lançado três álbuns, com apenas um single de sucesso (“Por las noches”, de 2021). Foi quando começou a ser mais falado por meio de singles sempre ao lado de outros artistas.
Em fevereiro de 2022, veio “El Belicón”, com Raúl Vega, uma mistura de trap com narcorrido exaltando o personagem título “Belicoso”, em tradução livre. A música viralizou no TikTok e hoje tem mais de 200 milhões de visualizações no YouTube. No clipe, Peso Pluma aparece com uma camisa com estampa de Tupac e um rifle em uma das mãos.
“Eu é que comando aqui / Tenho carros esportivos na minha coleção / Metralhadoras, bazucas e rifles Kalashnikovs”, canta ele. A letra é sobre se preparar para uma “guerra” contra a gangue rival. Música e vídeo receberam críticas no México por glamourizar narcotraficantes após décadas de conflitos no país.
Poucas ideias
Antes da fama, Peso Pluma contou que escreveu “várias músicas” a pedido de traficantes. Segundo ele, não era para apoiar ou glamourizar. “Era apenas um trabalho”, ele resumiu. Neste ano, o jornal “Los Angeles Times” entrevistou o rapper por videoconferência e perguntou sobre esses tempos de letras exaltando os feitos de narcotraficantes. Ele disse “Nah” e jogou o celular na mesa.
As entrevistas com Peso Pluma, no geral, não costumam render muito. As respostas são curtas e com frases de efeito geralmente repetidas em diferentes situações. “Pensam que eu sou uma máquina de ganhar dinheiro, mas eu não sou”, disse, sobre a agenda atribulada dos últimos meses.
Em 2023, ele tem se dividido entre Los Angeles, Nova York, Guadalajara e Cidade do México. “Tenho muita saudade da minha mãe. Eu praticamente não vejo mais ela. Tudo tem seus altos e baixos… Meu dia começa fumando um baseado e agradecendo a minha vida que tenho agora”, disse em entrevista recente.
Entre as influências, já falou que um de seus favoritos é Ariel Camacho, cantor tradicional mexicano que o fez pegar no violão pela primeira vez. Mas a lista tem Jay-Z, Kanye West e Bad Bunny, rapper porto-riquenho com o qual é comparado.
Rótulos como “Bad Bunny mexicano” ou “Post Malone com mariachis” fazem certo sentido. Assim como os popstars do rap, Peso Pluma faz um rap melódico com vocal desleixado.
O perfil chamou atenção de outros artistas, como Becky G. Ela e o rapper dividem os vocais em “Chanel”, lançada em março de 2023. Peso Pluma participou do show da cantora americana no festival Coachella, um mês depois, cantando versos sobre amor e ostentação.
O primeiro programa de TV no qual se apresentou foi um dos mais falados do mundo, o talk show de Jimmy Fallon. “Fui o primeiro artista regional mexicano a cantar no programa. Isso já diz o bastante”, ele disse depois de cantar “Ella baila solo” com certa timidez, olhando para o chão em boa parte do tempo. “Eu sabia que isso ia acontecer, mas não sabia que seria neste nível e com essa rapidez.”
A vez do México?
A maioria das canções de Peso Pluma tem forte influência de sons “do tempo do pai”: nomes da música regional mexicana ouvida por pais e avôs de artistas jovens como Junior H, Natanael Cano e Fuerza Regida.
Uma pesquisa do site chartmetric mostrou que as audições mensais somadas apenas desses três artistas pularam de 1,6 milhão em 2019 para 54,1 milhões no começo de 2023, no Spotify.
Hoje, apenas Peso Pluma tem 48 milhões de ouvintes mensais no Spotify. O gênero “Música Mexicana” cresceu 431% nos últimos cinco anos, segundo o Spotify.
A maioria dos ouvintes de Peso Pluma e seus pares do corrido romântico é formada por jovens de 20 e poucos anos. Os shows da turnê pelos Estados Unidos estão cheios de imigrantes mexicanos ou americanos filhos de pais nascidos no México. Há fãs de rap ou de música latina em geral, é claro, mas também existe esse público que cresceu ouvindo música tradicional mexicana.
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