“Capivárias?” Não! Essa é apenas uma das muitas brincadeiras que circulam na internet sobre a espécie, o coletivo de capivaras é manada. Se bem que a palavra “várias” define com precisão esse roedor que quase nunca encontramos sozinho. O bicho está sempre acompanhado, em grupos com dezenas de indivíduos.
O macho da espécie pode chegar aos 60 quilos , sendo o maior entre os roedores vivos no planeta. Há fósseis ainda maiores. Com esse tamanho, não tem como a capivara passar despercebida nos parques urbanos espalhados pelo país. Também não é difícil de flagrá-la bem à vontade atravessando as ruas ao lado de córregos, prova que as capivaras estão adaptadas a essa vida agitada, cercada de carros e pessoas.
Mas por que a capivara veio “morar” na cidade? Essa é uma pergunta equivocada. “Na verdade, foram as cidades que chegaram até as capivaras. Vamos tomar como exemplo os animais que vivem no rio Tietê, em São Paulo. O rio era usado como meio de transporte, energia e pesca. Durante as chuvas, transbordava e esse tipo de ambiente era perfeito para pacas, catetos e capivaras. A expansão da cidade fez com que parte das capivaras sumisse dessa porção do rio, enquanto outra parte foi transferida para parques, enquanto se faziam obras nas margens. A parte chamada de ‘alto tietê’, ainda é preservada e as capivaras gostam de lá”, detalha Gisela Sobral, coordenadora do Projeto Incisivos, que há três anos trabalha na divulgação científica sobre roedores.
Três motivos para a espécie se dar bem na cidade
A “segurança” é uma vantagem que esses roedores semiaquáticos que seguem o leito dos rios têm nesses trechos urbanos. Além da caça ser proibida, dificilmente as capivaras vão encontrar nessas áreas outras espécies temidas, como por exemplo, as onças. “Alguns animais conseguem se aproveitar do que a gente pode oferecer, que é proteção. Em nossa presença poucos predadores aparecem”, comenta Gisela.
Próximo às cidades também não há problema com alimento: tem grama, cana-de-açúcar, milho, um cardápio variado para uma espécie que não é tão exigente, pelo contrário, as capivaras são herbívoras e têm hábitos alimentares generalistas, característica que facilita essa adaptação na zona urbana.
O que ninguém pode negar, é que a espécie também faz sucesso nas redes sociais. Esse “carisma” coloca as capivaras entre os animais da chamada “fofofauna”, expressão popular para um termo técnico conhecido por “megafauna carismática”, que são os animais mais queridos pelos seres humanos. “As pessoas gostam de caminhar nas cidades e encontrar as capivaras. Ninguém quer espantá-las como a gente faz com gambás e ratazanas. Isso só reforça essa relação”, explica a coordenadora do Projeto Incisivos.
Dá para dizer que de uma maneira geral, as capivaras são bem-vindas nas cidades, assim, como são os cachorros e gatos. Mas, vale a ressalva…
Capivara não é “pet”
Mesmo vivendo tão perto das pessoas, a capivara não deixou de ser um animal selvagem. “Elas são sociais e precisam de outros animais de sua espécie. Também necessitam de uma área muito grande para viver, algo em torno de 15 a 200 campos de futebol. Então, por mais que elas vivam bem na cidade, não significa que viveriam em uma casa”, alerta Gisela.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) classifica a capivara como um animal silvestre nativo, ou seja, não está na lista de animais permitidos para serem criados como animais de estimação.
“A biologia da espécie determina a composição da lista de animais selvagens que podem ser comercializados. Se uma espécie não está na lista, é porque algum cientista analisou a biologia dela e chegou à conclusão de que um apartamento não é adequado para o bem-estar desse animal, e o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) avalia esses critérios. A gente não precisa de muito esforço para pensar nisso: imagina um golden retriever (cachorro de uma raça de grande porte) morando em uma quitinete? É como se a capivara morasse em um apartamento ou casa, mesmo que seja um ambiente grande com jardim, seria impossível”, conclui a bióloga.
O habitat natural das capivaras são rios, lagos e várzeas. Esses locais próximos de cursos d’água são usados para a reprodução, alimentação e também servem como esconderijo para se protegerem de predadores naturais.
A série de reportagens sobre a espécie do Terra da Gente chama a atenção também para o fato do animal ser hospedeiro do carrapato estrela, transmissor da febre maculosa.