Sol x sombra de árvore: Enquanto uma onda de calor varre a região e quebra recordes de temperatura, registros realizados nesta terça-feira (26) em Campinas, São Paulo, destacam o papel crucial da cobertura vegetal na mitigação do calor. Em uma comparação direta entre o asfalto sob o escaldante sol e as áreas sombreadas por árvores, a diferença no termômetro atingiu impressionantes 31,9ºC.
O pesquisador Ivan André Alvarez, da Embrapa, foi o responsável pelas medições. Utilizando um termômetro de superfície, ele realizou a aferição na Rua Dr. Albano de Almeida Lima, no bairro Guanabara, próximo de sua residência. Os resultados foram notáveis.
Na primeira medição, o asfalto exposto ao sol direto às 13h atingiu a impressionante marca de 66,4ºC. Por outro lado, na mesma rua, mas em uma área sombreada por árvores, o termômetro registrou uma temperatura de 34,5ºC.
O pesquisador Ivan André Alvarez expressou preocupação com a diminuição das áreas arborizadas na região: “O que tem me chamado a atenção no Guanabara, com o passar do tempo, é a substituição de alguns terrenos que antes eram arborizados e agora estão sendo desmatados sem reposição.“
De acordo com a Defesa Civil de Campinas, a temperatura na cidade atingiu 37,8ºC às 15h desta terça-feira, aproximando-se do recorde do ano registrado na segunda-feira (25) e no domingo (24), ambos com 37,9ºC.
A relação entre a falta de árvores e o aumento do aquecimento urbano é evidente. As árvores desempenham um papel fundamental no controle da temperatura, criando microclimas que reduzem o calor nas áreas urbanas. A pesquisadora Roseli Buzanelli Torres destaca a importância das árvores no controle da temperatura e na melhoria da umidade relativa do ar, proporcionando conforto e reduzindo a necessidade de uso de equipamentos como ar-condicionado.
Além de regular a temperatura, as árvores também ajudam a controlar o impacto das chuvas, evitando alagamentos em áreas urbanas. A destruição da vegetação, tanto em áreas urbanas como em ambientes naturais, afeta não apenas o ambiente, mas também a fauna que depende das árvores para alimentação e abrigo.
A pesquisadora Torres alerta que a primavera deste ano pode apresentar temperaturas acima da média, refletindo a destruição contínua da vegetação. Ela comenta: “Nós vamos ter uma primavera com temperaturas excepcionais, mas também com um rastro de destruição excepcional da arborização urbana e da vegetação nativa, tanto no município quanto no país de um modo geral. É isso que estamos vendo neste momento.”
A mensagem que fica é clara: a preservação das árvores e da cobertura vegetal é fundamental para enfrentar as mudanças climáticas e garantir um ambiente mais saudável e sustentável para as futuras gerações.
O que diz a prefeitura?
Em nota, a Secretaria de Serviços Públicos informou que existe uma política voltada à recomposição de árvores e que, a cada árvore extraída, outras 25 mudas são plantadas em Campinas. Segundo a pasta, para a Lagoa do Taquaral está sendo elaborado o Plano Diretor Florestal, pelo Instituto de Pesquisas Ambientais, ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, e pela Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq)/USP.
A secretaria afirma que desenvolve projetos e executa obras de praças, parques e áreas de lazer, e que há um projeto de construção de um parque no Jardim Bassoli, com previsão de início de obra em outubro. A área de 115 mil metros quadrados terá equipamentos de lazer e esportes, recuperação de nascentes e reflorestamento com o plantio de 5 mil mudas de espécies nativas.
“Em relação a um plano para chuvas, a secretaria vem, desde março, fazendo um trabalho preventivo nas principais avenidas com grandes árvores, para evitar a queda de galhos. Por causa da chuva, cerca de 800 árvores precisaram ser suprimidas. Somente este ano, a Secretaria de Serviços Públicos plantou mais de 17, 4 mil árvores”, informou a Secretaria de Serviços Públicos.