A médica que atendeu Jamilly Vitória Duarte, a garota de 5 anos que morreu após uma picada de escorpião em Piracicaba (SP), compareceu perante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara na última terça-feira, dia 17, onde fez uma revelação surpreendente. Ela afirmou que não tinha conhecimento da existência do soro antiescorpiônico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde prestou o atendimento. O caso trágico ocorreu no dia 12 de agosto deste ano e as informações foram divulgadas pelo Legislativo.
A UPA em questão, situada no bairro Vila Cristina, está sob a administração da Organização Social de Saúde (OSS) Mahatma Gandhi desde julho. Ao receber Jamilly na UPA, a médica observou que a criança apresentava sintomas como sudorese e vômito, apesar de estar consciente. Como protocolo da unidade, ela determinou a necessidade de uma avaliação detalhada antes da transferência da paciente para a sala de emergência.
Ela então prescreveu medicamentos para tratar os sintomas e deu início aos procedimentos para transferir a criança para um hospital. No entanto, a médica enfrentou dificuldades ao requisitar a vaga, alegando problemas no sistema da unidade e dificuldades com a inserção do número do cartão da paciente. Além disso, a falta de documentação adequada da criança complicou ainda mais o processo. Quando questionada sobre o motivo de não ter prescrito o soro antiescorpiônico imediatamente, a médica admitiu que não sabia da existência do insumo na UPA. Segundo ela, consultou um membro da equipe que negou a presença do soro. A médica só soube da disponibilidade do soro após a perda do acesso venoso da criança, enquanto a equipe tentava restaurá-lo.
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Em seu depoimento, a médica alegou que prescreveu o soro mais tarde, enquanto a paciente ainda estava na UPA. Ela justificou não ter auxiliado na tentativa de acesso venoso na criança. Alegando que a equipe do SAMU chegou e assumiu o atendimento para a transferência da paciente.
Ela admitiu que existiam outras opções de acesso, mas que o acesso venoso central, que exige a habilidade de um médico, levaria mais tempo e havia o risco de não ser bem-sucedido. Portanto, ela optou pela transferência.
A médica afirmou que prestou assistência à paciente e só se afastou para solicitar a vaga em um computador na sala de observação, que estava a poucos metros do leito da criança.
Ela não soube especificar o tempo ideal para a aplicação do soro antiescorpiônico, mas reconheceu que o procedimento deveria ser realizado imediatamente após a chegada à unidade.
Além disso, a médica revelou que não era pediatra. Tendo se formado apenas em junho daquele ano, e que seu trabalho na ala de pediatria era como clínica geral. Sem experiência prévia em serviços de urgência e emergência.
Por sua vez, a Prefeitura de Piracicaba se disponibilizou a fornecer todas as informações necessárias à Comissão da Câmara Municipal. Reiterando que a gestão da UPA é de responsabilidade da OSS Mahatma Gandhi.
O caso de Jamilly expôs deficiências no atendimento de saúde local, gerando dúvidas sobre a capacitação de profissionais e a disponibilidade de recursos nas unidades de pronto atendimento. Isso ressalta a urgência de aprimoramentos no sistema de saúde da região para evitar tragédias como essa.