Os consumidores brasileiros enfrentam um aumento significativo no preço do azeite de oliva, que subiu 24,5% nos últimos 12 meses até meados de outubro, de acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A principal causa desse encarecimento é a seca severa que atingiu a Europa, resultando na terceira queda consecutiva na colheita de azeitonas devido às altas temperaturas. O Brasil, como o segundo maior importador de azeite do mundo, é fortemente impactado por essas condições climáticas.
A Europa é responsável por 66% da produção mundial de azeite, com Espanha, Itália e Grécia liderando a produção. A seca afetou esses países de forma alarmante, levando a uma redução de 20% na produção de azeite na região entre 2022 e 2023. Essa diminuição forçou os compradores a buscar alternativas em países como Turquia, Tunísia, Marrocos e Argélia. No entanto, esses países alternativos impuseram restrições severas às exportações na tentativa de controlar os preços internos, resultando em valores ainda mais altos no mercado internacional.
A situação é tão grave que as comunidades locais na Europa têm realizado procissões para pedir chuva, de acordo com Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A seca é tão intensa que as oliveiras não conseguiram produzir o suficiente, afetando diretamente a quantidade de azeite disponível. A safra já caminha para o seu terceiro ano de queda consecutiva na Espanha, o maior produtor europeu, com uma diminuição de quase 45% na colheita entre as safras 2021/2022 e 2022/2023.
Segundo Jeronimo Santos, produtor de azeite e ganhador do prêmio instituído pelo Conselho Oleícola Internacional (COI), as altas temperaturas e a falta de chuvas durante o período de floração das oliveiras levaram à queima das flores, afetando drasticamente o desenvolvimento das azeitonas.
Com estoques de azeite se esgotando na Europa, não há perspectivas de recuperação a curto prazo, e a produção e os preços podem continuar a ser afetados. A azeitona é colhida apenas durante três meses ao ano para fornecer azeite durante o ano inteiro, tornando a boa produção essencial para a formação de estoques.
Roubo de azeite
Além disso, o aumento exorbitante dos preços transformou o azeite em um artigo de luxo na Espanha, levando a roubos de carregamentos de azeite e azeitonas. Os furtos estão ocorrendo devido ao alto valor da fruta e à fase de colheita, que é a etapa mais cara do processo de produção.
E não foi a primeira vez. Em março, 16 pessoas foram presas por suspeita de roubo de 17,5 toneladas de azeitonas.
Para Santos, isso se dá porque a fruta está valendo o dobro do preço e a colheita é a etapa mais cara. “Então, o sujeito pega um caminhão já abastecido ou até colhe o azeite durante a noite, focado em algo que precisa ter um valor importante, porque senão, não valeria a pena, né?”, afirma.
A situação, no entanto, permanece incerta, pois a escassez persiste e as condições climáticas continuam a desafiar os produtores de azeite em todo o mundo.