Os estados do Sudeste e do Centro-Oeste enfrentam uma onda de calor incomum para maio, com temperaturas quase atingindo os 40 graus Celsius. Esta condição meteorológica anômala está diretamente relacionada aos temporais no Rio Grande do Sul, que já causaram pelo menos 75 mortes até domingo, após uma semana de chuvas intensas.
O meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), explicou à TV Brasil que as frentes frias, provenientes da Argentina, estão sendo bloqueadas pela alta pressão atmosférica e pelo ar seco e quente na região central do Brasil. Esse bloqueio impede o avanço das frentes frias para o norte do país, resultando no volume incomum de chuvas no Rio Grande do Sul.
Além disso, o fenômeno El Niño, embora em sua etapa final, mantém as águas do Oceano muito quentes, contribuindo para mais chuvas na região sul. Seluchi também destacou que as mudanças climáticas, com o aquecimento da atmosfera e dos oceanos, estão agravando a situação.
De acordo com as previsões do Cemaden, as chuvas no Rio Grande do Sul devem persistir durante a semana, mas com menos intensidade. Seluchi explicou que as frentes devem oscilar, indo mais ao sul do continente ou subindo para Santa Catarina, resultando em chuvas menos volumosas e com períodos mais longos sem precipitação. No entanto, o processo de drenagem das águas já acumuladas levará vários dias para se normalizar.
Desastre climático
O desastre climático no Rio Grande do Sul já causou 75 mortes confirmadas pela Defesa Civil, superando a catástrofe ambiental de setembro de 2023, quando 54 pessoas morreram após a passagem de um ciclone extratropical pelo estado. Além das mortes, há 155 pessoas feridas e 101 desaparecidas. Cerca de 95,7 mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas, afetando mais de 700 mil pessoas em 332 dos 497 municípios gaúchos.
As chuvas também provocaram interrupções no fornecimento de energia elétrica para mais de 420 mil pontos e no abastecimento de água para 839 mil residências. As rodovias estaduais e federais também foram afetadas, com bloqueios totais e parciais em 113 trechos. As autoridades continuam as operações de resgate, que já salvaram mais de 10 mil pessoas.
Diante da gravidade da situação, cidades como Porto Alegre e Canoas adotaram medidas emergenciais, incluindo a evacuação de áreas de risco e o racionamento de água. As aulas estão suspensas e a população é orientada a buscar abrigo em locais mais seguros.