Desde o início dos temporais que assolam o Rio Grande do Sul desde 29 de abril, a tragédia não se restringe apenas às vidas humanas perdidas. De acordo com dados divulgados pelo governo do estado em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (9), o número de animais afetados pelos alagamentos e abandono também revela um cenário desolador. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-RS), 9.819 animais foram resgatados até o momento, marcando um esforço incansável para salvar vidas de todas as espécies.
Embora os detalhes sobre quem realizou esses resgates não tenham sido divulgados, estima-se que o número possa ultrapassar os 10 mil com operações em andamento envolvendo o Corpo de Bombeiros, Exército e Defesa Civil.
O governador Eduardo Leite (PSDB) expressou sua preocupação com a situação dos animais, destacando a importância dos esforços de resgate. “Estamos vendo outros casos como esse (do cavalo Caramelo) que merecem esforço e resgate para que a gente possa deixar todas as vidas em segurança”, afirmou Leite.
Na linha de frente dos resgates e cuidados aos animais, a ativista da causa animal Luísa Sigaran relata uma situação crítica na Orla do Guaíba, em Porto Alegre. Cerca de mil animais de diversas espécies encontram-se no local, improvisadamente apoiados apenas por voluntários civis. Sigaran destaca a presença de galinhas, porcos, cachorros, gatos e até cavalos.
Enquanto os resgates ocorrem paralelamente às buscas por pessoas, Sigaran e outros voluntários se deslocam para localidades como as ilhas do Guaíba e Eldorado do Sul, na Região Metropolitana da capital, enfrentando um verdadeiro desafio. “É uma guerra. Muito bicho morto. Muito bicho faminto”, descreve Sigaran. Ela explica que, para os animais não resgatados, eles deixam ração em cima dos telhados das casas alagadas.
A prefeitura de Porto Alegre tem buscado providenciar assistência aos animais domésticos resgatados nas enchentes. A Unidade de Saúde Animal Victória, localizada na Lomba do Pinheiro, Zona Leste da capital, já atende cerca de 130 pets provenientes de áreas afetadas.
Além dos esforços físicos no resgate e cuidado dos animais, a mobilização online tem sido uma ferramenta crucial. Perfis em mídias sociais compartilham fotos de animais resgatados e desaparecidos, auxiliando na busca por seus tutores.
Diante da magnitude da tragédia, pessoas têm demonstrado solidariedade de diversas formas. Marina Quintana, uma arquiteta, conseguiu arrecadar fundos nas mídias sociais para a montagem de estacas de madeira para cachorros e gatos. O esforço coletivo em prol dos animais é uma demonstração da união e empatia diante da adversidade.
No entanto, mesmo diante dos esforços hercúleos, histórias como a do cavalo Caramelo, resgatado após passar cerca de 100 horas em cima de um telhado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, ressaltam a resistência e a resiliência dos animais em meio à calamidade.
Os temporais no Rio Grande do Sul já deixaram um rastro de destruição, com 107 mortes, 134 pessoas desaparecidas e 374 feridas, segundo a Defesa Civil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou medidas de socorro ao estado, totalizando R$ 50,9 bilhões destinados à recuperação dos municípios e das famílias afetadas pelas enchentes. Enquanto o estado se esforça para se recuperar, a preocupação com o bem-estar dos animais permanece uma prioridade.