No cenário do rodeio brasileiro, a utilização do sedém, equipamento aplicado à cintura dos touros para estimular o pulo durante as competições, continua sendo um ponto de intenso debate. Reconhecido como patrimônio cultural e regulamentado por lei, o rodeio enfrenta críticas crescentes sobre o bem-estar animal. O debate se acirra com a questão: os touros sentem dor durante as competições?
Historicamente, o sedém tem sido o alvo de controvérsias, especialmente pelo seu suposto impacto negativo na saúde dos animais. Críticos argumentam que o equipamento pode causar dor e doenças ao pressionar os testículos dos touros. Esse argumento levou à criação de um estudo importante conduzido pelo professor Orivaldo Tenório de Vasconcelos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicado em 2002. A pesquisa, intitulada “Avaliação técnico-científica da utilização do sedém em bovinos de rodeio”, concluiu que o sedém não causa lesões nos testículos e que não há evidências de dor significativa nos animais.
Vasconcelos, que dedicou sua carreira ao estudo da dor em animais, explicou que o sedém provoca uma sensação de cócegas, não dor intensa. Segundo ele, a ausência de lesões e o comportamento normal dos touros indicam que o equipamento não é prejudicial. No entanto, o estudo gerou polêmicas e uma ação no Ministério Público alegando interesses privados, embora tenha sido considerada improcedente pela Justiça.
Por outro lado, ativistas e ONGs que defendem os direitos dos animais contestam essas conclusões. Caroline Ferreira Salioni, membro da Comissão de Direito e Defesa dos Animais da OAB em Ribeirão Preto, cita um laudo pericial que sugere que o sedém provoca dor ao comprimir órgãos internos dos touros. Ela também denuncia abusos prévios à competição, como o uso de choques elétricos, práticas negadas pelos organizadores.
A legislação estadual permite o uso do sedém desde que este não cause lesão física aos animais. O parágrafo II do artigo 8 da Lei 10.494/1999 especifica que o material do sedém deve ser macio e não provocar ferimentos.
Defensores do rodeio, como Hussein Gemha Junior, presidente da associação Os Independentes, destacam que a atividade é regulamentada e que os animais são acompanhados por veterinários. Segundo Gemha, os touros são valiosos e maltratar os animais prejudicaria o próprio esporte. Em 2023, um touro de rodeio foi vendido por mais de R$ 1 milhão, demonstrando a importância econômica desses animais para o setor.
Enquanto isso, o debate sobre o bem-estar dos touros no rodeio continua, refletindo uma polarização entre o respeito cultural pelo esporte e a crescente preocupação com os direitos dos animais.