O Brasil está enfrentando o pior período seco dos últimos 40 anos, com consequências devastadoras para o meio ambiente e a população. Segundo um levantamento exclusivo do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), a estiagem afeta mais da metade do país, com 16 estados e o Distrito Federal enfrentando a pior seca já registrada no período de maio a agosto desde a década de 1980.
Cenário Crítico
O impacto das queimadas é evidente, com cidades sufocadas pela fumaça, rios secos e animais morrendo devido à falta de água. O setor hidrelétrico está em alerta devido à baixa nos reservatórios, e a qualidade do ar está tão prejudicada que se tornou difícil respirar. De acordo com o Cemaden, a seca é a mais longa já observada fora dos estados do semiárido, com uma duração que já alcança 12 meses.
Cronologia da Seca
- Junho de 2023: A seca começou a se intensificar com a chegada do El Niño, que alterou os ciclos de chuva pelo país. Apesar da expectativa de alívio com a chegada da temporada chuvosa em outubro, o índice pluviométrico ficou abaixo da média, especialmente na região Norte.
- Início de 2024: O fim do El Niño não trouxe a trégua esperada. O aquecimento do Atlântico Tropical Norte, reflexo do aquecimento global, continuou a alterar o padrão de chuvas. Além disso, recordes de temperaturas máximas contribuíram para uma evaporação acelerada das águas dos rios.
Impactos e Consequências
Mais de 3,8 mil cidades estão atualmente em situação de seca, com um aumento de quase 60% no número de cidades afetadas entre julho e agosto. No Sudeste, das 1.668 cidades, 1.666 estão em seca. A situação é tão grave que são necessários ciclos de chuva acima da média para amenizar os danos, o que não é esperado no próximo ciclo.
Impacto na Água e Energia
A seca prolongada está causando uma drástica redução nos níveis dos rios, afetando a disponibilidade de água e dificultando a recuperação dos recursos hídricos. No Norte, a falta de água está impactando a navegação e a economia local, incluindo o escoamento de produtos da Zona Franca de Manaus. O impacto econômico também é significativo, com empresas reportando gastos de R$1,4 bilhão devido à falta de água.
O setor hidrelétrico está sob pressão, com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) anunciando a necessidade de reduzir o uso de usinas hidrelétricas e acionar termelétricas para compensar a baixa geração de energia. Isso pode resultar em aumento dos custos de energia para os consumidores.
Queimadas
A seca intensa deixou a vegetação ressecada e mais vulnerável a incêndios, que começaram antes do previsto e estão mais graves do que o habitual. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio registrados é o mais alto em 14 anos. O Pantanal já registrou 800 mil hectares queimados, e a Amazônia Legal teve o maior número de focos de fogo em 19 anos. Recentemente, a fumaça das queimadas alcançou o Sul do Brasil e se espalhou por mais de dez estados.
Medidas e Recomendações
Os especialistas alertam que a situação exige medidas emergenciais para mitigar os impactos da seca e das queimadas. Luiz Aragão, pesquisador do Inpe, destaca a necessidade de proibir o uso do fogo para manejo da terra e aumentar os esforços para prevenir novos incêndios. Enquanto isso, a situação continua a se deteriorar, exigindo uma resposta coordenada e eficaz para enfrentar os desafios impostos por este período crítico.