Você já pode ter experimentado o inchaço, fadiga e alterações de humor nos dias que antecedem a menstruação. Esses sintomas são comuns e fazem parte da síndrome pré-menstrual (TPM), que afeta cerca de 80% das mulheres. No entanto, para algumas mulheres, a intensidade dos sintomas é tão grave que compromete significativamente a vida profissional e pessoal. Esse quadro pode ser um sinal de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma forma mais severa da TPM.
O TDPM, que afeta de 2% a 8% das mulheres, é classificado como um transtorno psiquiátrico no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). “Enquanto a TPM causa algum impacto, o TDPM apresenta sintomas mais intensos e disfuncionais, como labilidade afetiva, irritabilidade acentuada, ansiedade e tensão”, explica a psiquiatra Christiane Ribeiro, doutoranda em medicina molecular com foco em cognição, gestação e cérebro feminino.
De acordo com Ribeiro, o impacto do TDPM é significativo devido à gravidade dos sintomas, que incluem conflitos nos relacionamentos e no ambiente de trabalho. “Em casos extremos, pode haver agressividade e mudanças drásticas de comportamento”, completa.
A psiquiatra e terapeuta Anny de Mattos Barroso Maciel acrescenta que o TDPM pode afastar a paciente do trabalho devido à combinação de sintomas físicos e problemas de atenção, memória e concentração. “Quando os sintomas são graves e afetam a rotina da mulher, é essencial investigar se estamos diante de um caso de TDPM e não apenas de TPM”, afirma.
Como Identificar o TDPM
Não existe um exame específico para diagnosticar o TDPM. O diagnóstico é feito através do monitoramento dos sintomas ao longo de pelo menos dois ciclos menstruais. Os sintomas incluem:
- Mudanças de humor/emocionais: alterações de humor, sensação repentina de tristeza ou choro, aumento da sensibilidade à rejeição
- Irritabilidade ou raiva incontroláveis
- Depressão severa, sentimentos de desesperança, inutilidade ou culpa
- Ansiedade e tensão extrema
- Diminuição do interesse em atividades habituais
- Dificuldade de concentração e confusão mental
- Cansaço ou falta de energia
- Alterações no apetite e compulsão alimentar
- Sonolência excessiva ou insônia
- Sensação de sobrecarga
- Sintomas físicos como sensibilidade nos seios, dor nas articulações ou músculos, inchaço ou ganho de peso
A Associação Internacional para Distúrbios Pré-Menstruais (IAPMD) recomenda que o diagnóstico inclua pelo menos cinco dos sintomas listados, sendo um deles essencialmente emocional.
Diagnóstico e Tratamento
José Maria Soares, presidente da Comissão de Ginecologia Endócrina da Febrasgo, alerta que os sintomas do TDPM podem ser confundidos com outros transtornos, como a depressão. A avaliação deve ser feita por ginecologistas e psiquiatras. A característica distintiva do TDPM é que os sintomas surgem 7 a 10 dias antes da menstruação e desaparecem no início do ciclo menstrual.
Christiane Ribeiro destaca que a falta de acolhimento e o tabu em torno da menstruação podem contribuir para a dificuldade em obter um diagnóstico e tratamento adequados. “Muitas vezes, as mulheres não se sentem ouvidas, e a falta de conhecimento sobre o ciclo menstrual e o TDPM pode levar à desvalorização das queixas”, afirma.
Causas e Tratamento
As causas do TDPM não são completamente compreendidas, mas acredita-se que haja uma variação hormonal, especialmente dos níveis de estrogênio e progesterona, associada a fatores genéticos. “Quando a progesterona baixa, ela altera a modulação da via GABAérgica no cérebro, o que pode contribuir para os sintomas do TDPM”, explica Anny Maciel.
O tratamento do TDPM pode incluir medidas farmacológicas e não farmacológicas, que variam conforme a paciente e podem incluir:
- Atividade física
- Alimentação balanceada
- Antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS)
- Anticoncepcional
- Tratamentos para interromper a menstruação
- Terapia
Se você suspeita que seus sintomas vão além da TPM, é fundamental buscar ajuda médica para uma avaliação adequada e um plano de tratamento eficaz.