O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), realizou, no dia 17 de agosto, o primeiro transplante de útero intervivos bem-sucedido da América Latina. A paciente, que nasceu sem útero devido à síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH), recebeu o órgão da própria irmã, marcando um avanço significativo na medicina reprodutiva.
O procedimento foi conduzido pela Divisão de Ginecologia e pelo Serviço de Transplante de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do HCFMUSP, destacando a inovação contínua da instituição, que já havia sido pioneira ao realizar o primeiro transplante uterino com doadora falecida, que resultou no nascimento de um bebê saudável em 2017.
A cirurgia foi realizada em colaboração com uma equipe sueca liderada pelo Professor Mats Brännström, referência mundial na área e responsável pelo primeiro nascimento em útero transplantado, ocorrido em 2014. Enquanto na Suécia o método é regulamentado e amplamente implementado, no Brasil ainda é considerado experimental e faz parte de um estudo.
De acordo com Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, Professor Titular e Diretor da Divisão de Transplantes do HCFMUSP, a cirurgia ocorreu sem intercorrências e a receptora do órgão se encontra em ótimo estado de saúde, já apresentando ciclo menstrual pela primeira vez. “O Hospital das Clínicas atinge mais um marco na medicina ao ser a primeira instituição latino-americana a realizar um transplante de útero exitoso com doadora viva”, destacou.
Próximos Passos Após o Transplante
A receptora será acompanhada pelo Centro de Reprodução Humana da Divisão de Ginecologia do HCFMUSP e poderá realizar a primeira fertilização in vitro (FIV) cerca de seis meses após o transplante. As próximas etapas do processo continuarão a ser realizadas no Hospital das Clínicas.
Edmund Chada Baracat, Professor Titular da Disciplina de Ginecologia da FMUSP e Diretor da Divisão de Ginecologia do HCFMUSP, ressaltou a importância psicológica do transplante para mulheres sem útero que desejam gerar filhos, embora a indicação seja restrita. “É um procedimento inovador e complexo, que requer boas condições clínicas e a possibilidade de gerar embriões saudáveis”, explicou.
O processo pré-transplante incluiu estimulação ovariana e coleta de óvulos da paciente, bem como do sêmen do marido, para a fertilização in vitro. Assim que as condições clínicas forem favoráveis, os embriões gerados serão implantados no útero transplantado.