Uma pesquisa da Universidade de Pittsburgh, publicada no Journal of Clinical Oncology, revelou que mulheres que realizam mamografias anualmente têm uma probabilidade significativamente menor de serem diagnosticadas com câncer de mama em estágio avançado em comparação àquelas que fazem o exame a cada dois anos ou com menor frequência. O estudo analisou dados de 8.145 pacientes diagnosticadas entre 2004 e 2019, mostrando que apenas 9% das mulheres que se submeteram a exames anuais descobriram a doença em estágios avançados, em contraste com 14% e 19% nas que se rastrearam bienalmente e intermitentemente, respectivamente.
O câncer de mama é o segundo mais comum entre mulheres, com cerca de 74 mil novos casos projetados para o Brasil entre 2023 e 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A chance de cura é alta — até 95% quando a doença é detectada precocemente. A mamografia é fundamental, com estudos indicando que ela pode reduzir a mortalidade por câncer de mama em até 40%.
No entanto, as diretrizes para o início do rastreamento variam amplamente. Nos Estados Unidos, algumas organizações recomendam mamografias anuais a partir dos 40 anos, enquanto outras sugerem exames bienais. No Brasil, o Inca preconiza rastreamento a cada dois anos para mulheres de 50 a 69 anos, o que gera confusão e pode contribuir para diagnósticos tardios.
O estudo também destacou que, em mulheres jovens com menos de 49 anos, há um risco maior de desenvolvimento de tumores agressivos. O câncer de mama em pacientes jovens no Brasil é mais prevalente do que em outros países, com 15% das pacientes diagnosticadas tendo menos de 40 anos.
A mastologista Danielle Martin Matsumoto enfatizou a importância da mamografia anual, especialmente considerando que muitos casos de câncer de mama têm um crescimento lento, mas existem tipos mais agressivos que podem se desenvolver rapidamente entre os intervalos de rastreamento. Ela destacou que o acesso a exames e a continuidade de acompanhamento após resultados suspeitos são cruciais para a eficácia do rastreamento.
O Inca, em nota, reafirmou suas diretrizes, considerando injustificada a ampliação do uso da mamografia para mulheres assintomáticas abaixo de 50 anos. Porém, a especialista observa que a estrutura de saúde pública precisa garantir não apenas a realização de mamografias, mas também o acompanhamento adequado em caso de resultados positivos.
A pesquisa evidencia a necessidade urgente de campanhas educativas sobre a importância do rastreamento regular e a simplificação das diretrizes, a fim de garantir que todas as mulheres tenham acesso a diagnósticos precoces e, consequentemente, aumentem suas chances de cura.