A curiosidade sobre a predominância dos destros entre os seres humanos levanta questões intrigantes sobre suas origens. Embora aproximadamente 90% da população seja destra, a razão para essa tendência é um assunto de debate, envolvendo aspectos culturais, biológicos e até históricos.
Tradicionalmente, ser destra está associado a conotações positivas como destreza e competência, enquanto ser canhoto (ou zurdo, em espanhol) carrega estigmas negativos. A Real Academia Española define “canhoto” como sinônimo de mal e sinistro, e essa percepção remonta a tempos antigos, refletida em diversas culturas. Por exemplo, nas primeiras representações cristãs, os justos estão à direita de Deus, enquanto os condenados ficam à esquerda. Semelhantes avaliações podem ser encontradas em culturas orientais e no mundo islâmico, onde a mão esquerda é associada a funções impuras.
Essa dualidade cultural levanta a questão: por que o canhotismo é frequentemente visto de forma tão negativa? Embora existam variações na taxa de canhotos entre diferentes regiões—cerca de 5% na China e 10-12% no Ocidente—não se pode afirmar que a predominância dos destros seja necessariamente uma adaptação vantajosa.
Hipóteses sobre a Origem da Destrezas
Uma possível explicação reside em fatores genéticos, especialmente ligados ao sexo. Estudos sugerem que canhotos tendem a ter uma probabilidade ligeiramente menor de sobrevivência até a velhice e são mais comuns entre homens. O canhotismo poderia ser influenciado por níveis de testosterona e frequentemente está associado a distúrbios imunológicos e cognitivos. Contudo, essa explicação não abrange a maior incidência de canhotos em gêmeos, prematuros ou indivíduos expostos a condições adversas.
Outra hipótese examina a assimetria anatômica entre as mãos. Embora ambos os lados do corpo possam desenvolver força, a destreza muitas vezes é desigual. O desenvolvimento embrionário e a estrutura dos órgãos apresentam assimetrias que podem influenciar a lateralidade. Por exemplo, o coração se posiciona no hemitórax esquerdo, e lesões nessa área podem ser mais perigosas, levando a uma maior proteção desse lado. Historicamente, exércitos desenvolveram táticas em que a mão direita é usada para atacar, enquanto a esquerda se encarrega da defesa, sugerindo que ser destro pode oferecer vantagens em contextos de combate.
Evidências Arqueológicas
Pesquisas arqueológicas também fornecem insights sobre a lateralidade em populações antigas. Impressões de mãos em cavernas, como as da Argentina e da Espanha, mostram uma predominância significativa de mãos direitas. Além disso, análises de marcas deixadas por ferramentas em restos ósseos indicam que espécies como o Homo heidelbergensis eram predominantemente destros, sugerindo que essa condição é uma característica duradoura na evolução humana.
Conclusão
Em suma, a predominância dos destros não pode ser explicada por uma única causa. A interação complexa entre fatores culturais, biológicos e históricos sugere que a condição de ser canhoto, embora menos comum, é uma parte intrigante da diversidade humana. A expectativa de vida ligeiramente menor entre canhotos pode ser vista como um indicativo de “má sorte”, mas também ressalta a importância de entender e valorizar as diferenças que existem entre nós.