A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar o “golpe do falso advogado”, que tem enganado clientes de escritórios de advocacia em todo o país. Os criminosos obtêm informações sobre clientes e advogados através de documentos processuais, que são públicos, e se passam por representantes legais em ligações e mensagens, utilizando fotos dos advogados e logomarcas dos escritórios.
Um dos casos emblemáticos é o de Jesuíno Silva, motorista de ônibus da capital paulista, que foi vítima do golpe e pagou sete boletos que somaram mais de R$ 117 mil. “Veio por mensagem, no nome da minha advogada. Primeiro foi um boleto de R$ 3 mil, e depois aumentou para R$ 40 mil. Agora, estou devendo. É difícil, do INSS eu recebo uma mixaria e não posso fazer nada”, desabafou.
Luiz Augusto D’Urso, presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da ABRACRIM, destacou que a publicidade dos dados pessoais, prevista pela Constituição de 1988, facilita golpes como esse. “A regra de serem públicas todas as informações gera risco. Defendo que tenhamos sigilos de documentos durante o processo”, afirmou.
Além de São Paulo, outros estados também registram casos semelhantes. Em Curitiba, um advogado relatou que 42 de seus clientes receberam tentativas de golpe, com sete pessoas realizando pagamentos que somam R$ 70 mil. Na capital paranaense, o aposentado Francisco Castro foi enganado ao pagar cerca de R$ 13 mil após receber mensagens com documentos que continham seus dados pessoais.
Em Brasília, o advogado previdenciário Diego Cherulli também confirmou que três clientes de seu escritório caíram no golpe. Já em Fortaleza, um advogado local informou sobre cerca de 60 tentativas de golpe, com dois clientes realizando pagamentos.
A Polícia Civil do Paraná e a Polícia Civil de São Paulo estão investigando os casos, enquanto a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do estado paulista informou que trabalha para identificar e responsabilizar os envolvidos. Em novembro de 2023, uma operação conjunta prendeu 15 pessoas ligadas a uma organização criminosa que aplicava o golpe em diversos estados.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi contatada para um posicionamento, mas ainda não se manifestou. As vítimas são alertadas a ficarem atentas a solicitações de pagamentos que pareçam suspeitas, especialmente quando solicitadas por meio de canais de comunicação não oficiais.