O estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado nesta terça-feira (5), revelou que o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil resultou em 104,8 mil mortes em 2019, o equivalente a uma média de 12 óbitos por hora. O estudo, intitulado “Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil”, aponta ainda que o impacto econômico do consumo de álcool foi de R$ 18,8 bilhões no mesmo ano.
A pesquisa foi realizada a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde, como parte da iniciativa RESET Álcool, e revela que o consumo de álcool representou um custo de R$ 1,1 bilhão para o Sistema Único de Saúde (SUS), relacionados a hospitalizações e procedimentos ambulatoriais. Os custos indiretos, como perda de produtividade pela mortalidade precoce, internações e licenças médicas, somaram R$ 17,7 bilhões.
Custos elevados e um cenário alarmante
O estudo também revela que os homens foram responsáveis por 86% das mortes atribuídas ao consumo de álcool no Brasil. Do total de óbitos masculinos, quase metade foi causada por doenças cardiovasculares, acidentes e violência. Para as mulheres, que representam 14% das mortes, os efeitos do álcool são mais relacionados a doenças cardiovasculares e cânceres.
Os custos hospitalares são mais elevados entre os homens, que também têm maior taxa de internações devido ao consumo excessivo de álcool. No entanto, as mulheres, apesar de consumirem menos álcool que os homens, estão cada vez mais afetadas pelo problema, com o abuso de bebidas alcoólicas entre elas crescendo de forma alarmante. Entre 2006 e 2023, a incidência de episódios de abuso (quatro ou mais drinques por ocasião) praticamente dobrou entre as mulheres.
Desafios para a saúde pública e a necessidade de ação
Luciana Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas não Transmissíveis da Vital Strategies, alerta que o aumento do consumo entre as mulheres é um reflexo de mudanças culturais e da estratégia da indústria de bebidas alcoólicas de atrair o público feminino. Ela enfatiza a urgência de um olhar mais atento para essa questão, para evitar que o crescimento do consumo de álcool entre as mulheres se torne uma tendência ainda mais pronunciada.
O estudo também destaca a importância de políticas públicas para reduzir o consumo de álcool no país, como a implementação de um imposto seletivo sobre bebidas alcoólicas, uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo Pedro de Paula, diretor-executivo da Vital Strategies, “com a redução do consumo, podemos salvar vidas e reduzir os impactos sociais do álcool, poupando bilhões de reais todos os anos.”
Custo previdenciário e os impactos econômicos
Além dos custos diretos com hospitalizações, o estudo estima que os gastos com a previdência, como aposentadorias precoces e licenças médicas devido a doenças relacionadas ao álcool, atingiram R$ 47,2 milhões em 2019, sendo 78% desse valor com o público masculino. Os custos com a saúde são uma grande preocupação, especialmente considerando que os dados do estudo não incluem o impacto das redes de saúde privada ou os custos adicionais em estados e municípios.
Os pesquisadores ressaltam que, embora o estudo já identifique um custo significativo de quase R$ 19 bilhões, o impacto real do consumo de álcool na sociedade brasileira pode ser ainda maior, considerando que o levantamento não abrange a totalidade dos custos sociais e econômicos.
Metodologia e dados do estudo
A pesquisa utilizou uma análise comparativa de risco e levou em consideração as doenças associadas ao consumo de álcool, com base em estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). O levantamento incluiu dados do Sistema Único de Saúde (SUS), como internações hospitalares e procedimentos ambulatoriais relacionados ao álcool, além de dados sobre mortalidade prematura e impactos previdenciários.
Os pesquisadores concluíram que, apesar da grande quantidade de dados disponíveis, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira provavelmente é ainda mais expressivo do que as estimativas apresentadas.