Um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que o aumento de apenas 1ºC na temperatura média pode resultar em até 40% mais casos de dengue na cidade de Campinas (SP). A pesquisa, publicada na revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, foi conduzida por pesquisadores dos Institutos de Economia, Filosofia e Ciências Humanas da universidade, e teve como base dados de incidência de dengue entre 2013 e 2022, fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde, e dados climáticos coletados pelo Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp.
Impacto do Calor na Propagação do Mosquito da Dengue
Embora já seja amplamente reconhecido que o calor favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, o estudo foi além e utilizou modelos estatísticos para quantificar o impacto exato da variação térmica sobre a incidência da doença. Os resultados mostram que, com um aumento de 1ºC na temperatura média, o número de casos pode subir 20% no mesmo mês e continuar a aumentar em 8,4% no mês seguinte.
Em um segundo modelo, os pesquisadores observaram um crescimento de até 40% nos casos de dengue em um período de dois meses com o mesmo aumento de temperatura.
A Temperatura é Mais Impactante que as Chuvas
Embora a pesquisa também tenha investigado a relação entre a quantidade de chuvas e os casos de dengue, os resultados apontaram que a temperatura tem um impacto mais significativo na propagação da doença. Segundo Igor Cavallini Johansen, do Departamento de Demografia da Unicamp, o aumento da temperatura acelera o desenvolvimento do mosquito, ampliando sua população e, consequentemente, a distribuição da doença.
“O aumento da temperatura favorece o desenvolvimento mais rápido do mosquito vetor. Com mais mosquitos disponíveis, a distribuição dos casos de dengue na cidade é mais intensa”, explicou Johansen.
Desafios no Combate à Dengue
A pesquisa destaca que, embora o aumento de temperatura seja um fator importante, o controle da dengue também depende de ações mais amplas de saneamento e educação da população. Segundo os pesquisadores, não existe uma solução única para o problema. “Não temos uma bala de prata. Se alguma dessas lacunas (como saneamento ou educação) ficar sem atenção, a doença pode aumentar”, afirmou Johansen.
Além disso, a pesquisa revelou que, mesmo com o calor, a prevenção continua sendo fundamental. Para isso, é essencial eliminar os criadouros do mosquito, como pneus, latas e pratos de plantas, que acumulam água e servem de habitat para as larvas.
Dengue em Campinas: Epidemia em Números
Campinas enfrenta uma epidemia recorde de dengue em 2024, com 120.216 casos confirmados e 80 mortes registradas até o início de novembro. O número de óbitos em decorrência da doença aumentou nas últimas semanas, com a confirmação de mais três vítimas no dia 4 de novembro. A cidade, que vive sua pior crise com a doença, já registrou casos fatais entre pessoas com idades entre 21 e 84 anos, todas com comorbidades.
Medidas de Prevenção e Orientações à População
Diante do aumento dos casos e das altas temperaturas, a Secretaria de Saúde de Campinas reforçou o alerta à população sobre a importância de eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouro para o mosquito transmissor da dengue. Algumas das principais orientações são:
- Elimine água acumulada em pneus, calhas, lajes e vasos de plantas.
- Tampe caixas d’água e mantenha as calhas limpas.
- Limpe com frequência ralos e potes de água para animais.
- Use telas de proteção nas janelas e mantenha portas fechadas, especialmente no amanhecer e no entardecer, quando o mosquito é mais ativo.
- Coloque repelentes e use velas de citronela para manter os mosquitos afastados.
Além disso, caso apresente sintomas como febre alta, dor no corpo, manchas vermelhas na pele, vômito e diarreia, a população é orientada a procurar uma unidade de saúde para atendimento médico imediato.
A pesquisa da Unicamp evidencia a relação direta entre o aumento da temperatura e o crescimento dos casos de dengue em Campinas. A cidade precisa redobrar os esforços de prevenção, especialmente com a expectativa de temperaturas elevadas até o fim do ano. A colaboração entre a população e as autoridades de saúde é essencial para conter o avanço da epidemia e reduzir os riscos à saúde pública.