O número de adultos vivendo com diabetes tipo 1 ou tipo 2 no mundo ultrapassou os 800 milhões em 2022, mais do que quadruplicando desde 1990, quando a cifra era de 198 milhões, segundo um estudo global publicado pela revista The Lancet na última quarta-feira (13). Os dados mostram um crescimento alarmante na prevalência da doença, com taxas dobrando tanto entre homens quanto mulheres nas últimas três décadas.
O estudo, realizado pela Colaboração de Fatores de Risco de Doenças Não Transmissíveis (NCD-RISC) em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi a análise mais abrangente sobre as tendências do diabetes, considerando mais de 140 milhões de pessoas de diferentes países. Segundo os pesquisadores, mais de um quarto dos casos de diabetes no mundo estão concentrados em apenas dois países: a Índia (212 milhões de pessoas) e a China (148 milhões), seguidos por países como os EUA, Paquistão, Indonésia e Brasil, que somam milhões de casos.
Estilo de vida e obesidade impulsionam o aumento
A endocrinologista Tarissa Petry, especialista em obesidade e diabetes, aponta que o aumento do diabetes está diretamente ligado à obesidade e ao estilo de vida moderno. “O aumento da prevalência de diabetes ocorre de forma paralela ao aumento da obesidade, em grande parte devido ao sedentarismo e à dieta inadequada, com consumo excessivo de alimentos ultraprocessados”, afirma.
A dieta rica em fast-food, o sedentarismo e o estresse têm afetado a saúde de muitas pessoas, alterando genes e contribuindo para o desenvolvimento de doenças metabólicas, como o diabetes. Esse cenário reflete a crescente modificação do estilo de vida nas últimas décadas, agravada pela falta de tempo e o acesso limitado a alimentos saudáveis.
Desigualdade no tratamento
Outro ponto preocupante do estudo é a desigualdade no tratamento do diabetes. Aproximadamente 59% dos adultos com diabetes em todo o mundo (cerca de 445 milhões de pessoas) não receberam tratamento adequado em 2022. Enquanto países da Europa Central, Ásia Oriental e América Latina apresentam avanços no tratamento da doença, muitos países de baixa e média renda enfrentam dificuldades em oferecer cuidados adequados para a população diabética. Em algumas regiões, mais de 90% das pessoas com diabetes não têm acesso a medicamentos ou tratamentos eficazes.
A falta de acesso ao tratamento adequado resulta em complicações graves, como amputações, doenças renais, cegueira e doenças cardiovasculares, que podem levar à morte precoce. “O tratamento adequado pode evitar complicações graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além de diminuir o custo com tratamentos mais invasivos”, afirma Tarissa Petry.
Obesidade como fator chave no combate ao diabetes tipo 2
Para Petry, uma das formas mais eficazes de combater o diabetes tipo 2 é tratar e prevenir a obesidade, que é a principal causa da doença. “No Brasil, a única opção de tratamento para obesidade no setor público é a cirurgia bariátrica. Não há medicamentos disponíveis para tratar a obesidade de forma preventiva, o que dificulta o controle da doença”, explica.
Ela acredita que a recente descoberta de medicamentos como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro), que tratam o diabetes tipo 2 e promovem a perda de peso, pode trazer novas esperanças para o tratamento da doença. “Com esses novos medicamentos, há a possibilidade de reduzir o custo do tratamento e aumentar o acesso a terapias eficazes, melhorando o controle do diabetes em longo prazo”, conclui Petry.
O futuro do tratamento
Apesar dos desafios, a especialista vê com otimismo a evolução no tratamento e a possibilidade de novas políticas públicas para ampliar o acesso a medicamentos e terapias, o que pode reduzir a incidência de complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O estudo também destaca a necessidade de uma abordagem mais abrangente e personalizada no tratamento do diabetes, considerando as condições específicas de cada região e as barreiras de acesso à saúde.
O aumento das taxas de diabetes no mundo é um reflexo das mudanças no estilo de vida moderno e das desigualdades no acesso ao tratamento, que exigem atenção urgente das autoridades de saúde pública para enfrentar o problema em escala global.