O economista Pedro Gomes, autor do livro Sexta-feira é o novo sábado (2021) e professor da Universidade de Londres, defende a adoção da semana de quatro dias de trabalho, não por questões de felicidade ou bem-estar, mas para preservar a economia capitalista. Segundo Gomes, a atual jornada de trabalho de cinco dias não acompanha as transformações que ocorreram ao longo das últimas décadas na sociedade e na economia, o que resulta em um estresse crescente para os trabalhadores e suas famílias.
Gomes, que coordenou um projeto piloto de semana de quatro dias em Portugal em 2023, destaca que a ideia não é simplesmente reduzir o tempo de trabalho, mas promover uma reorganização mais eficiente da economia e das empresas. Para ele, é um erro considerar que o tempo livre é “tempo perdido” para a economia. Pelo contrário, ele argumenta que mais tempo livre pode estimular a economia, pois as pessoas tendem a consumir mais em momentos de lazer, beneficiando indústrias como o turismo, a gastronomia e o entretenimento.
O impacto da mudança nas empresas
Em Portugal, 41 empresas participaram do projeto piloto de semana de quatro dias, com a maioria delas observando melhorias em termos de redução de estresse e burnout, aumento de produtividade e maior retenção de funcionários. Apenas quatro empresas decidiram voltar à jornada tradicional de cinco dias após o período de teste.
Gomes afirma que a transição para uma jornada de trabalho mais curta deve ser gradual e adaptada às especificidades de cada setor, como já aconteceu no passado, quando a jornada de oito horas foi estabelecida, enfrentando grande resistência inicial por parte das empresas. Para ele, um movimento em direção à semana de quatro dias ajudaria a reequilibrar as relações de trabalho, especialmente em uma sociedade em que muitas famílias têm os dois pais trabalhando longas jornadas e lidando com o estresse de múltiplas responsabilidades.
Desafios e benefícios da adaptação
Embora a mudança seja vista com ceticismo por alguns setores empresariais e políticos conservadores, Gomes acredita que a adaptação será mais fácil do que os críticos imaginam. A redução da jornada de trabalho, além de proporcionar mais qualidade de vida para os trabalhadores, também poderia trazer benefícios econômicos significativos, como aumento da produtividade e redução de custos relacionados ao burnout e à alta rotatividade de funcionários.
Ele observa que a legislação pode ter um papel importante na implementação dessa mudança, assim como aconteceu no passado com a criação de jornadas de trabalho mais curtas. Para Gomes, a aplicação de uma legislação que limite a jornada de seis dias por semana, como está sendo discutido no Brasil, poderia ser um passo importante para modernizar a economia e acompanhar as necessidades do século 21.
A resistência das empresas e a necessidade de adaptação
Ao longo da história, grandes mudanças nas condições de trabalho, como a redução da jornada de trabalho, foram inicialmente resistidas pelas empresas, mas depois mostraram-se benéficas para a economia. Gomes cita exemplos históricos, como o de Henry Ford, que, no início do século 20, implementou a jornada de cinco dias em sua fábrica e, ao contrário da previsão de queda na produção, aumentou a eficiência e o lucro. Para ele, as empresas que se adaptarem à redução de jornada também terão ganhos econômicos a longo prazo, principalmente ao reduzir custos com saúde e aumentar a satisfação de seus funcionários.
O futuro do trabalho
Gomes acredita que a implementação da semana de quatro dias pode ser uma forma de combater o descontentamento social e político que tem impulsionado o crescimento de movimentos populistas em várias partes do mundo. Ao melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e equilibrar as exigências de trabalho com as necessidades pessoais e familiares, a medida poderia ajudar a criar um sistema econômico mais sustentável e menos suscetível aos riscos do populismo econômico.
No Brasil, onde ainda se discute o fim da jornada de seis dias de trabalho, Gomes vê um futuro promissor, mas ressalta a importância de uma transição bem planejada, que respeite as características e desafios de cada setor da economia. Para ele, a redução de jornada é uma resposta necessária para os desafios contemporâneos, que exigem mais flexibilidade, equilíbrio e inovação no mundo do trabalho.