O uso do cigarro tem sido associado a um aumento no consumo entre jovens, impulsionado pela glamourização do ato por parte de influenciadores, artistas e celebridades. Um exemplo disso é o recente reconhecimento do termo “brat”, o qual foi eleito palavra do ano pelo dicionário britânico Collins e tem sido abraçado por figuras como Charli XCX, que, para a cantora, representa uma “atitude confiante, independente e hedonista” — muitas vezes, com um cigarro em mãos.
O cigarro como símbolo de estilo e rebeldia
O impacto da estética do “brat” no comportamento de alguns jovens pode ser observado no aumento do consumo de cigarros, como relatado por Lucy, uma estudante universitária de 20 anos, que começou a fumar por “ser o que todo mundo faz” e por ser parte da imagem de atitude associada à sua geração. Para ela, o cigarro se tornou mais do que um vício: é um acessório, um símbolo de rebeldia, alimentado por ícones pop como Charli XCX, que descreve a vibe “brat” como essencialmente ter um maço de cigarros e um isqueiro Bic.
Além de Charli, outras celebridades como Rosalía e Addison Rae também contribuíram para a popularização do cigarro, seja presenteando com cigarros ou aparecendo com eles em seus clipes. O retorno do cigarro às passarelas da Semana de Moda de Nova York, no início deste ano, foi mais uma confirmação de como o fumo se tornou um símbolo de sofisticação e estilo dentro de certos círculos da cultura pop.
A estética das celebridades fumantes e a nostalgia dos anos 2000
Segundo a jornalista Olivia Petter, o cigarro, hoje, ressurge como um símbolo nostálgico de despreocupação e hedonismo, características marcantes dos anos 2000, quando figuras como Kate Moss e Jennifer Aniston eram frequentemente vistas com um cigarro nas mãos, tornando o fumo parte de uma imagem sofisticada e sedutora. Essa “glamorosa” associação do cigarro com a juventude e o estilo é, sem dúvida, uma das razões pelas quais a juventude volta a se interessar por ele, mesmo com os conhecidos riscos à saúde.
A tendência também está presente em filmes e séries populares, como o thriller “Saltburn”, que capturou perfeitamente a estética dos anos 2000, com personagens que fumam não apenas como um ato rebelde, mas como parte integral do seu charme. O filme, estrelado por Jacob Elordi, apresenta cenas em que o personagem aparece fumando, e o próprio ator Archie Madekwe foi treinado para fumar durante a produção.
O impacto da glamorização do tabagismo entre jovens
Ainda que os riscos do tabagismo sejam amplamente conhecidos, com a Organização Mundial da Saúde estimando mais de 8 milhões de mortes anuais devido ao cigarro, a imagem do fumante continua sendo distorcida pela cultura pop. A Truth Initiative, uma organização contra o tabagismo, aponta que nove dos dez filmes indicados ao Oscar deste ano exibiam cenas com cigarros — um aumento em relação aos anos anteriores. Essa glamorização pode, de fato, influenciar as escolhas de muitos jovens, como no caso de Jessica, uma jovem de 26 anos que afirma que fumar “voltou a ser normalizado” entre seus amigos e colegas.
No entanto, a popularização do cigarro tem se intensificado, em parte, devido à crescente popularidade dos “cigfluencers” (influenciadores do tabagismo), com contas no Instagram compartilhando fotos de artistas como Dua Lipa, Anya Taylor-Joy e Chappell Roan fumando. A glamorização do cigarro também reflete uma mudança cultural na percepção de certos comportamentos, incluindo o ato de fumar, que, há alguns anos, era visto apenas como um vício, mas agora é parte de uma identidade social mais ampla.
O efeito do tabagismo na saúde e a resposta das autoridades
O impacto negativo do tabagismo na saúde não pode ser ignorado. A médica Misra-Sharp alerta que mesmo fumar pequenas quantidades de cigarro pode aumentar significativamente o risco de doenças graves, como câncer de pulmão. Além disso, a Taxa de Mortalidade por Câncer de Pulmão é alarmante, com uma taxa de sobrevivência de apenas 10% após cinco anos de diagnóstico.
Embora as campanhas de saúde pública e as leis contra o tabagismo no Reino Unido busquem combater o fumo, o “resgate” do cigarro na cultura pop é um reflexo das complexas dinâmicas de comportamento dos jovens e do apelo estético que ele representa. O governo britânico está tomando medidas drásticas para erradicar o tabagismo, com planos para proibir a venda de cigarros a partir de 2030, o que torna ainda mais claro o paradoxo entre o desejo de erradicar o fumo e a crescente popularidade do cigarro como símbolo de estilo e atitude.
O futuro do tabagismo na cultura pop
O retorno do cigarro à cultura pop é, portanto, um fenômeno complexo que envolve questões de saúde, estética e comportamento social. Embora as autoridades de saúde pública tentem reduzir o consumo, o ressurgimento da imagem do cigarro em filmes, músicas e redes sociais provavelmente continuará a influenciar as gerações mais jovens. No entanto, como destacou o médico James Hook, a glamorização do cigarro pode ser uma tendência passageira, refletindo uma rebeldia temporária mais do que uma mudança duradoura no comportamento cultural.