A história de discriminação racial vivida pela cerimonialista Soraia Martins, de Piracicaba, ganhou destaque no segundo episódio da série “Consciência Negra” da EPTV. Soraia, uma mulher negra e empreendedora no segmento de assessoria de eventos, foi indicada por uma empresária para organizar o casamento de uma noiva. No entanto, ao perceber que a cerimonialista era negra, a noiva enviou uma mensagem pedindo à empresária que a substituísse por uma profissional “de pele branca”. A empresária, que havia feito a indicação com a intenção de promover a inclusão, ficou surpresa com a resposta e a atitude discriminatória da noiva.
Soraia, que guarda lembranças dolorosas da infância, relembra a primeira vez que sofreu racismo. “Um colega da minha sala me chamou de macaca. E, ali, eu fiquei sem reação, não consegui responder ele no momento. Então, isso me marcou bastante na infância”, relata. Mesmo adulta e empoderada, ela enfrenta o racismo estrutural que, segundo ela, ainda é muito presente no Brasil. “Mesmo tentando criar oportunidades, a gente ainda sente muito o racismo estrutural que existe fortemente”, lamenta.
Abaixo, veja como foi exatamente a conversa:
O professor do Departamento de Sociologia da Unicamp e coordenador do Afro Cebrap, Matheus Gato, comenta sobre a atual forma de discriminação. Para ele, o racismo, embora tenha raízes históricas na escravidão, se atualiza constantemente, muitas vezes envolvendo novas formas, como o “racismo algorítmico”, que se refere a práticas discriminatórias mediados pela tecnologia. Gato afirma que o racismo se reinventa e persiste no cotidiano, atualizando-se por meio de práticas sociais rotineiras que perpetuam a desigualdade racial.
Ele alerta que a escravidão, embora seja um marco histórico, não pode ser vista como uma justificativa para as práticas discriminatórias atuais. “As pessoas querem lavar as mãos: ‘É consequência da escravidão. O que eu tenho a ver com isso?’. Não. Há uma atualização em um conjunto de práticas sociais que reinventam a desigualdade racial”, destaca o professor.
O caso de Soraia é apenas um exemplo de como o racismo estrutural ainda afeta a vida de muitas pessoas no Brasil, independentemente de sua posição social ou profissional. A luta contra o preconceito continua sendo um desafio diário, tanto nas relações pessoais quanto no ambiente de trabalho.