Na última quarta-feira (18), o Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) e a Auditoria Fiscal do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), anunciaram o resgate de 14 trabalhadores em condições análogas às de escravo durante o Rock in Rio 2024. Os trabalhadores estavam prestando serviços para uma empresa de carregamento de equipamentos que atuava na montagem e limpeza do evento.
A força-tarefa, realizada na madrugada de 22 de setembro, inspecionou as instalações do evento e encontrou os trabalhadores dormindo em condições degradantes sobre papelões, sacos plásticos e lonas na Arena de Tênis do Parque Olímpico. Eles eram responsáveis por carregar objetos como grades, bebidas, barricadas e estruturas metálicas.
De acordo com o MPT, os trabalhadores foram contratados com a promessa de receber diárias entre R$ 90 e R$ 150, mas muitos não receberam o pagamento integral. Além disso, as jornadas de trabalho eram exaustivas, com alguns funcionários trabalhando até 21 horas seguidas, com intervalos de apenas três horas de descanso entre as jornadas.
Relatos das vítimas também indicaram condições precárias de higiene, como banheiros sujos e falta de privacidade, com algumas trabalhadoras tendo que retirar a maçaneta da porta do sanitário feminino para evitar a entrada de homens.
A fiscalização resultou na lavratura de 21 autos de infração contra a empresa contratada, além de 11 autos contra a organizadora do evento, a Rock World S.A., que foi responsabilizada pela negligência na fiscalização das condições de trabalho.
O procurador do Trabalho, Thiago Gurjão, destacou que o MPT tomará medidas cabíveis para garantir a responsabilização das empresas envolvidas, inclusive com a exigência de indenizações por danos morais individuais e coletivos. O MPT também questionou a empresa responsável pela certificação de “evento sustentável” e as patrocinadoras do festival sobre as ações que tomarão diante das evidências de trabalho escravo.
Este não é o primeiro caso de resgates no Rock in Rio: em edições anteriores, trabalhadores foram encontrados em condições semelhantes. Em 2013, 93 pessoas foram resgatadas, e em 2015, 17 trabalhadores passaram pela mesma situação.
Nota do Rock in Rio
Em nota, a Rock World afirmou que repudia qualquer forma de trabalho irregular e garantiu que todas as empresas terceirizadas envolvidas foram instruídas a cumprir a legislação brasileira. A empresa também reafirmou seu compromisso com a transparência e com a criação de empregos diretos e indiretos ao longo de suas edições.