Em janeiro de 2025, o preço do café arábica tipo 6 atingiu o maior patamar já registrado para essa variedade, desde que os dados começaram a ser coletados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba (SP). Com cotações desde setembro de 1997, o valor médio da saca de 60 quilos de café arábica chegou a R$ 2.301,60, representando um aumento de 6,8% (R$ 146,72) em relação a dezembro de 2024.
O cenário atual de preços elevados é reflexo da oferta restrita de café tanto no Brasil quanto no mercado global, combinada ao alto percentual de café já comercializado pelos produtores brasileiros. Além disso, fatores climáticos adversos, que impactaram diretamente a produção, também contribuem para a alta nas cotações.
O café arábica, mais consumido no Brasil e valorizado por seu sabor, é particularmente sensível às condições climáticas, o que torna a produção da variedade mais vulnerável. Em termos de qualidade, o tipo 6 de arábica é caracterizado por até 86 defeitos em uma amostra de 300 gramas, o que pode influenciar o preço final.
Exportações em Alta e Dólar Valorizado
No início da safra 2024/2025, o Brasil exportou cerca de 22 milhões de sacas de café arábica e robusta, um volume que corresponde a quase metade do total exportado na safra anterior. Esse desempenho é resultado da combinação de uma oferta limitada no mercado global, forte demanda externa e a valorização do dólar frente ao real, que aumentou ainda mais a competitividade do café brasileiro no mercado internacional.
Em relação ao robusta, o preço também teve uma valorização significativa, com o preço do café robusta tipo 6 no Espírito Santo atingindo um recorde real desde o início da série histórica do Cepea, em 2001. O aumento no valor é atribuído à oferta restrita de robusta no Brasil e no Vietnã, principais produtores da variedade.
Expectativa para Safra 2025/2026 Preocupa Especialistas
Os pesquisadores do Cepea destacam que a safra 2024/2025 já foi afetada por condições climáticas adversas, e o início da safra 2025/2026 também desperta preocupação. A seca prolongada e as sucessivas ondas de calor entre agosto e outubro de 2024 podem resultar em uma produção ainda mais restrita, pressionando os preços para cima no próximo ciclo.
Impacto no Mercado Interno e Ajustes nos Blends
No Brasil, o café consumido no dia a dia é uma mistura (blend) de arábica e robusta, sendo que a produção nacional é composta por dois terços de arábica e um terço de robusta. O aumento no preço das duas variedades tem gerado um ajuste na proporção de arábica e robusta nos blends utilizados pela indústria, uma medida para controlar os custos. No entanto, esse ajuste tem limites, pois mudanças na proporção podem alterar o sabor do café, impactando a experiência do consumidor.
Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Cepea, explica que a alta nos preços é um reflexo direto da restrição de oferta nos principais países produtores, como Brasil e Vietnã. A escassez de café, combinada com dificuldades logísticas e custos elevados de transporte, tem intensificado o impacto no preço final.
Com os estoques mundiais apertados e a produção limitada, a crise de oferta e demanda continua a pressionar os preços do café. A expectativa é que, caso a escassez de oferta persista, esses aumentos sejam repassados ao consumidor final, o que pode impactar o custo do café no mercado interno e externo.