Acidentes x Arborização urbana: Arrancar as árvores é a solução? Há algumas semanas uma cena tem chamado a atenção de quem passa pelas ruas em torno da Lagoa do Taquaral, em Campinas (SP): A grande quantidade de árvores removidas dentro do parque.
A medida foi adotada pela prefeitura da cidade depois que a queda de uma árvore matou uma criança de 7 anos no início do ano. Outro acidente ocorreu em outro parque da cidade, o Bosque dos Jequitibás, quando um motorista morreu ao ter o carro atingido por uma árvore de grande porte.
Essas tragédias reforçam ainda mais uma necessidade que nem sempre é levada em conta pelos municípios: a atenção à arborização urbana, algo que vai muito além de podas ou árvores arrancadas.
A Secretaria de Serviços Públicos de Campinas informou que foram feitas as extrações de 55 eucaliptos na Lagoa do Taquaral, após orientação de laudos técnicos de institutos especializados em preservação ambiental. Além disso, segundo a administração, está em andamento a retirada de outras 181 árvores que estariam comprometidas.
Na opinião do especialista em botânica, Luiz Magnago, essa decisão está longe de ser a solução para o problema. “A preservação das árvores também é uma questão de segurança pública, e quando são retiradas de maneira indiscriminada, pode aumentar o risco de deslizamentos de terra e enchentes”, destaca o especialista.
Luiz reforça que as árvores, como seres vivos, estão sujeitas a problemas de saúde e envelhecimento. “No entanto, isso não significa que todas as árvores devam ser retiradas imediatamente. É preciso uma avaliação técnica criteriosa para determinar a real necessidade de remoção de uma árvore em vez de simplesmente cortá-las. Devemos considerar alternativas mais cuidadosas e sustentáveis, como a poda e a manutenção regular, o monitoramento da saúde das árvores e a implantação de sistemas de alerta para condições climáticas severas”, explica Magnago.
O especialista se preocupa com o que essa situação do Taquaral e outras podas de árvores podem causar a médio e longo prazo.
“As árvores são parte integrante do nosso ecossistema urbano, contribuindo para a qualidade do ar, a absorção de água e a redução da temperatura. Elas proporcionam sombra e abrigo para animais e pássaros. Removendo essas árvores, com certeza, muitas aves vão ficar prejudicadas, sem alimento, por exemplo. E não só isso: as árvores estão diretamente ligadas à qualidade de vida das pessoas”, destaca o botânico.
Pela cidade, é possível encontrar vários cenários onde a cidade perdeu cor. Na imagem acima, a mudança foi flagrada por drone e mostra diferença entre imagem feita em dezembro de 2021 e fevereiro de 2023. A remoção foi feita após morte de criança no Taquaral. A imagem reflete a transformação chocante da Avenida Francisco Glicério, no Centro da cidade com a saída do verde na paisagem.
Medidas preventivas
Para o biólogo do Terra da Gente, Luciano Lima, essa problemática deve ser algo a ser desenvolvido de forma preventiva. “O ideal seria os municípios investirem no monitoramento desses parques, com um engenheiro florestal fazendo o acompanhamento de árvores antigas, doentes, para que áreas fossem isoladas em caso de risco, por exemplo, ou até mesmo medidas como fechar o parque após fortes chuvas ou vento, com o objetivo de evitar acidentes”, destaca.
Apesar da Prefeitura de Campinas justificar a retirada de espécies, o especialista José Ataliba Gomes, avalia que a extração de muitas árvores de uma única vez precisa ser avaliada com muito critério. “Por exemplo, eu acredito que tenham sido removidas mais árvores do que o previsto. Além dos 55 eucaliptos foram removidas árvores nativas como o pau-ferro (Caesalpinia leiostachya)“, afirma.
Em nota a administração municipal de Campinas disse que a vistoria das árvores nos parques, incluindo a Lagoa do Taquaral, é contínua e feita pela equipe técnica da Secretaria de Serviços Públicos, formada por engenheiros agrônomos, florestais e biólogos. A prefeitura comunicou ainda que fará o plantio de espécies nativas adequadas à região e que há remoções de árvores previstas no Bosque dos Jequitibás.
Ainda não há dados sobre o impacto dessas remoções de árvores no contexto geral do meio ambiente em Campinas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), uma cidade deve ter no mínimo 9 metros quadrados de área verde por habitante. No entanto, essa área verde pode incluir além das árvores, espaços como praças, parques e jardins. Já em relação ao número de árvores, o ideal é que haja no mínimo uma árvore para cada três habitantes, segundo a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU).
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