Uma pesquisa realizada pelo DataFavela e o Instituto Locomotiva, divulgada em Brasília, mostrou que a demora em realizar agendamentos de exames e o acesso a instituições de saúde são as maiores dificuldades enfrentadas por moradores de favelas em todo o Brasil para o diagnóstico e tratamento do câncer. A pesquisa “Percepções e prioridades do câncer nas favelas brasileiras”, realizada pelo Oncoguia, ouviu 2.963 pessoas, em sua maioria de raça negra e das classes D e E, de todas as regiões do país, entre os dias 18 de janeiro e 1º de fevereiro deste ano.
A maioria dos entrevistados (82%) depende exclusivamente do SUS, e entre eles, 70% afirmam que tentam cuidar da saúde, mas relatam que nunca encontram médicos nos postos de saúde e que os exames demoram muito. Além disso, 45% dos moradores de favelas têm dificuldade para chegar à Unidade Básica de Saúde (UBS), levando, em média, uma hora nesse trajeto.
A pesquisa revelou ainda que 41% dos entrevistados não costumam fazer exames ou só os realizam quando estão doentes. Esse índice cai para 34% entre pessoas com 46 anos ou mais. A falta de transparência nas informações para a população também foi destacada pela fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, que afirmou que esses dados mostram a desigualdade no acesso à saúde no Brasil.
O fundador do Data Favela, Renato Meirelles, afirmou que o estudo mostra os reflexos do abandono do Estado nessas comunidades, que concentram a desigualdade de renda no país. A pesquisa também identificou os principais mitos envolvendo o câncer entre os moradores de favela. Por exemplo, 11% não sabem dizer se o câncer é contagioso e 19% acham que é “castigo divino”. Outros 31% acreditam que pessoas negras não têm câncer de pele.
Sete em cada 10 moradores de favela acham que têm menos acesso à informação sobre prevenção e diagnóstico precoce da doença. Para 68% dos entrevistados, a prevenção é importante, mas não têm acesso às unidades de saúde adequadas. O estudo também mostrou que 63% dos entrevistados fazem associação negativa relacionada ao câncer, sendo a primeira palavra que vem à cabeça quando escutam a palavra câncer “morte”.
Esses dados revelam a urgência de melhorias no acesso à saúde nas favelas brasileiras, bem como na informação e conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer. É preciso reduzir as desigualdades no acesso à saúde e informação em todo o país, para que a população mais vulnerável possa ter uma chance maior de combater essa doença.