“Não vamos mais andar de bicicleta, escalar prédios”, diz Di Ferrero, em uma entrevista. “Nem correr na esteira estou correndo mais”, completa Caco Grandino, brincando. Os dois, vocalista e baixista do NX Zero, querem garantir que a turnê de reencontro “Cedo ou tarde” aconteça sem contusões dos integrantes.
A banda anunciou o reencontro com uma turnê que começa neste domingo (28), no Festival Mita, no Rio; e termina em dezembro, no Allianz Parque, com duas apresentações nos dias 15 e 16. Ao todo, são 27 apresentações em cidades como Porto Alegre, Vitória, Belo Horizonte, Recife e Brasília.
“A gente está preparando o maior espetáculo, maior show que a gente poderia fazer com tudo que a gente sempre quis”, diz Di Ferrero.
Durante a conversa, os cinco integrantes da banda, Di Ferrero, Caco Grandino, Daniel Weksler, Fi Ricardo e Gee Rocha, falaram sobre esta nova empreitada, sobre a pausa na banda e o retorno, expectativas e como se sentem depois de 22 anos de carreira.
Cada um no seu canto
Seis anos atrás, o NX Zero anunciou que uma pausa por tempo indeterminado na banda. E cada um foi para o seu canto.
“A gente começou muito cedo, nossa carreira sempre foi muito intensa, então, basicamente, a gente ficou quase 16 anos ininterruptos, com turnê, disco. Chega uma hora, a gente tem vontades individuais”, explica Caco.
“Foi um momento que entrou na expectativa de cada um. A gente estava cada um com uma ideia diferente de caminho para a banda, e não estava entrando nessa sinergia que a gente sempre teve.”
Neste período sabático, Di apostou na carreira solo, Caco abriu uma empresa de distribuição de música, Fi abriu um bar em São Paulo, Gee ficou na produção musical e trabalhou com artistas como Karol Conká e Matuê, e Daniel mudou para o interior de São Paulo, viajou como baterista em turnês da Pitty e de Nano Reis, além de ter lançado músicas em carreira solo.
“Foi muito legal, porque cada um foi viver uma coisa completamente diferente, e a gente pode ver o NX de uma perspectiva diferente. Quando a gente voltou, as cinco cabeças para isso aqui, estava todo mundo respeitando muito mais um outro e todo mundo respeitando muito mais a trajetória da banda”, diz Daniel.
“A gente respeitar, e honrar isso, acho que hoje a gente consegue colocar isso num lugar muito mais bonito, sabendo que que essa história é maior do que a gente.”
Antes tarde do que nunca
Segundo a banda, o retorno se deu depois de algumas conversas entre eles. “A gente sempre ficou ventilando quando seria. Só que não era um momento certo para um, não era o momento certo para o outro”, afirma Di.
Daniel completa que entre as conversas estava uma de “zerar o jogo”, para deixar tudo bem claro entre eles. “São muitos anos de vida, muita coisa que a gente passou. O Di colou em casa e fez ‘e aí, vamos conversar?’, olho no olho, ‘o que você está sentido?'”, conta Daniel.
“Foi bonito para a gente zerar e ver o que mais importa é que a gente continua amigo. É uma coisa que a gente viveu tanto tempo junto, que a nossa relação é maior do que qualquer coisa.”
Os shows, segundo Di, serão diferentes entre si, cada um com suas particularidades, seja no setlist ou nas músicas, mas sem pressão entre eles para criar algo. E sim, com uma certa nostalgia. O plano mesmo, ele diz, é curtir o momento.
“Claro que vai ter um certo saudosismo, porque a gente também estava com muitas saudades de tocar as músicas.”
“Vamos tocar coisas da carreira inteira, mas, conhecendo a gente, provavelmente, pode ser que, sei lá, a gente apronte algo.”
“E para a gente sempre foi natural, produzir as coisas. O grande lance da conexão da música do NX com a galera é porque sempre foi espontâneo”, diz Caco. “Como o Di falou, a gente veio realmente para curtir este momento, poder aproveitar o máximo e da melhor forma. Acho que é deixar as coisas em aberto.”
“Para ele, um dos motivos que levou a pausa na banda foi a intensa rotina de criar, gravar, lançar, sair em turnê, voltar e começar tudo de novo. “Nem gravei o disco e já fiz a tour, aí, nem terminei a tour já tem que começar outro disco. Eu não tive tempo nem de parar para pensar, para viver, para criar uma coisa nossa. É esse o risco de cair na mesmice, afirma.
“É por isso que a gente não está se colocando ‘ah, vamos fazer um disco’ e tal, porque a gente quer que seja sempre natural, para não cair nesse lugar da rotina.”
Reencontro com os fãs
A turnê, que até o momento conta com 25 apresentações, sendo as duas últimas nos dias 15 e 16 de dezembro no Allianz Parque. Cinco das apresentações já estão com os ingressos esgotados.
Com mais de duas décadas de carreira, o grupo pôde ver seu público crescer, não apenas em número de pessoas. Muitos dos fãs eram adolescentes quando começaram a acompanhar a banda e hoje já são adultos. E a expectativa é estes e os novos fãs, aqueles que nunca tiveram a oportunidade de ir a uma apresentação, se encontrem na plateia.
“A gente está sentindo que, claro, tem a galera que ia nos shows e cresceu com a gente, mais ou menos a mesma idade, 35, 36, 37 anos, mas tem uma galera que nem chegou a ir em um show. São fãs de outra geração, que viam e não podiam ir porque eram muito novos”, afirma Di.
“E tem os que tem os que os pais falavam para não gastar dinheiro, que era para gastar com outra coisa, e hoje estão trabalho, podem ir, têm seu carro. E isso é muito massa”, diz Daniel. Caco ainda lembra de outra faixa de fãs: a dos que agora têm grana para pagar, mas são pais e não podem levar os filhos pequenos. “Vocês vão ter que se organizar, a agenda está no site”, brinca Di.
Maturidade
Assim como os fãs, eles também estão crescidos e falaram sobre as mudanças ao se aproximarem dos 40 anos, e o que a maturidade trouxe para a vida deles.
“Eu me sinto mais seguro do que eu era com 30 ou 20 anos. Tive tempo de desenvolver várias coisas que não conseguia, por causa da rotina da banda. É uma fase de mais segurança, de formar família. Eu tô noivo, o Dani está com uma filha com a Pitty, acho que para mim é esse o sentimento”, diz Caco.
“Eu sinto duas coisas. Estou sentindo bastante diferença na prática do instrumento. Antes eu era muito mais maluco, tocava de qualquer jeito, na empolgação. Hoje, acho que com a experiência, me deu know-how, consegui fazer sem me machucar”, diz Daniel.
“Outra parte foi que eu perdi pessoas muito queridas na minha vida, não por causa da pandemia, mas próximo, e me fizeram me colocar em um lugar de viver a vida mesmo, de aproveitar, de resolver os sonhos e não ficar ‘ah, quando eu me aposentar’, ‘quando eu fizer tal coisa vou ser feliz’. Você quer morar no meio do mato? Vai, porque a gente está vivo agora”, afirma.
“O NX está voltando e eu tô com muito prazer de estar fazendo isso, porque estamos vivos os cinco e a gente criou uma história maravilhosa, por que não celebrar isso? É aproveitar agora. É meio clichê, mas para mim, isso é essencial.”
Estádio lotado
Os dois últimos shows estão marcados no dia 15 e 16 de dezembro no Allianz Parque. Os ingressos para o dia 16, o primeiro dia a ser anunciado, já estão esgotados.
O estádio do Palmeiras já foi palco para apresentações de Paul McCartney, Elton John, Roger Waters, David Gilmour, Coldplay, Maroon 5 e outros.
“Vai ser um grande passo, né?”, diz Di. “A gente sente que estamos prontos para isso. Essa que é a parada. A gente está pronto para fazer um espetáculo daqueles que vai marcar a nossa vida, a nossa carreira.”
“O lugar tem que ser grandioso. A pressão eu ainda não senti. A gente está muito seguro, o show está muito da hora, não sei tô tendo tempo para pensar em pressão.”