O sarampo, uma doença que parecia ter sido controlada, ressurge como uma ameaça à saúde pública no Brasil. Apesar dos avanços na imunização, baixas coberturas vacinais e a perda da percepção de sua gravidade colocam em risco a população, conforme alertam especialistas.
O médico Guido Levi, integrante da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações do Estado de São Paulo, relembra um episódio no início dos anos 2000, quando residentes em uma enfermaria de doenças infecciosas em São Paulo ficaram intrigados com uma criança que apresentava erupções cutâneas e febre alta. Nenhum exame havia detectado a causa, mas Levi afirmou categoricamente: “Isso é sarampo.”
O sucesso da imunização contra o sarampo fez com que muitos esquecessem a gravidade da doença. Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada 20 crianças com sarampo pode desenvolver pneumonia, a causa mais comum de morte por sarampo em crianças. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que a vacinação contra o sarampo evitou 21,1 milhões de mortes de 2000 a 2017.
Guido Levi lembra o impacto do sarampo na infância no início dos anos 1980. Além disso metade do Hospital Infantil da Cruz Vermelha Brasileira, em São Paulo, estava ocupada por crianças com sarampo, e a mortalidade era alta.
A imunização não apenas eliminou o sarampo do Brasil, mas de todo o continente americano, reconhecido pela Opas em 2016. Antes da década de 1980, o sarampo matava 2,6 milhões de pessoas anualmente, mais do que as vítimas da covid-19 no primeiro ano da pandemia.
A vacinação tem sua realização por meio das vacinas tríplice viral e tetra viral no Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023. Assim, a primeira é aplica-se no primeiro ano de vida e protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A segunda, aos 15 meses, inclui proteção contra a varicela.
Lurdinha Maia, da Fundação Oswaldo Cruz, destaca que a percepção da gravidade do sarampo é crucial, pois apenas altas coberturas vacinais impedem a mortalidade. O sarampo não é trivial, com riscos como pneumonia, otite e encefalite.
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O sarampo pode causar sequelas graves. Assim como crianças e adultos podem enfrentar comprometimentos visuais, auditivos, intelectuais e físicos após a doença.
A vacinação no Brasil começou em 1967 e fazia parte do calendário básico de imunização desde 1977. A doença levou quase 60 anos para ser considerada eliminada do país, mas retornou em 2018 devido a baixas coberturas vacinais.
Carla Domingues, da Opas, enfatiza a necessidade de comunicação para conscientizar sobre os riscos da não vacinação. Surto de sarampo pode sobrecarregar os sistemas de saúde, afetando o atendimento a outras doenças.
A baixa adesão à segunda dose da tríplice viral é um desafio. Em 2018, a primeira dose atingiu 92% das crianças, mas a segunda apenas 76%, especialmente na região amazônica.
A homogeneidade na cobertura vacinal é essencial. Nichos de não vacinados podem permitir o retorno da doença.
O surto de sarampo em 2018 começou na região amazônica e se espalhou pelo Brasil. Em um ano, assim o país registrou mais de 10 mil casos. São Paulo tornou-se o epicentro em 2019.
Em 2020, houve 8.448 casos confirmados, com 10 mortes de crianças menores de 5 anos. A vacinação é essencial para evitar essas tragédias evitáveis.
O Brasil caminha para controlar novamente, com 44 casos em 2022 e nenhum até agora em 2023. No entanto, baixas coberturas vacinais representam um risco contínuo.
Por fim, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, enfatiza que o controle do sarampo requer altas coberturas vacinais, destacando a importância de levar a vacinação à população.