A mancha de poluição no Rio Tietê, que havia mostrado melhoras nos últimos dois anos, agora está em estado preocupante. O levantamento do projeto Observando os Rios, coordenado pela ONG SOS Mata Atlântica, revela que a extensão do leito classificado como ruim ou péssimo aumentou significativamente. Assim atingindo 160 km neste ano, em comparação com os 122 km do ano anterior.
Esse dado representa o pior índice em cinco anos e o segundo pior em uma década, apenas superado pelo ano de 2018, quando o rio registrou 163 km de extensão poluída. O problema central continua sendo o despejo de esgoto não tratado. No entanto, especialistas identificam que fatores climáticos e a atividade econômica podem ser responsáveis por essa deterioração súbita.
Gustavo Veronesi, geógrafo e coordenador do Observando os Rios, aponta para a irregularidade das chuvas como um fator crítico. O período atual, caracterizado pelo calor e pela escassez de chuvas, é seguido por chuvas torrenciais. Que assim arrastam poluentes do ar e solo para o rio, aumentando a poluição.
Além disso, o ressurgimento da atividade econômica pós-pandemia contribuiu para o aumento da “carga difusa” de poluentes. Obras de construção civil que liberam resíduos diretamente nas sarjetas, que, por sua vez, fluem para o rio.
O monitoramento da qualidade da água considera diversos parâmetros, como coliformes fecais, lixo flutuante, nível de oxigênio, acidez e presença de peixes. O Observando os Rios coleta dados por meio de colaboradores voluntários, incluindo empresas, universidades e escolas, que analisaram 59 pontos neste ano.
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Embora a situação do Tietê seja mais limpa em suas nascentes, à medida que atravessa a região metropolitana de São Paulo, a qualidade da água piora. O ponto crítico é o entroncamento com o rio Pinheiros, com muitas ligações clandestinas de esgoto.
Felizmente, mudanças recentes na política de saneamento podem trazer melhorias, e o Pinheiros apresenta agora uma qualidade ligeiramente melhor. A redução do mau odor já é perceptível na ciclovia e estações de trem, mas melhorias nas condições de vida precárias ainda são necessárias.
À medida que o Tietê se afasta de São Paulo, a qualidade da água melhora devido às corredeiras e pequenas centrais hidrelétricas que oxigenam a água. No entanto, mesmo em Botucatu, a água ainda não atinge a condição ‘ótima’.
O desafio na área intensamente agrícola é o uso excessivo de agrotóxicos, que pode deixar o rio esverdeado devido ao acúmulo de nutrientes. Além disso, áreas de mata e cerrado com margens desmatadas sofrem mais com a poluição.
O relatório do Observando os Rios enfatiza a necessidade de planos integrados para enfrentar os problemas do clima, saneamento urbano e rural, e uso da água em toda a bacia do Tietê. Atualmente, mais de 27% dos pontos analisados apresentam qualidade ruim ou péssima, indicando uma situação preocupante na luta pela despoluição do rio.