A seca e as altas temperaturas que afetam o Brasil nos últimos anos têm gerado um impacto significativo no preço do café, que se tornou um item cada vez mais caro para os consumidores. Nos últimos 12 meses, o preço do café moído subiu 16,6%, enquanto a inflação geral do país foi de 4,2%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em agosto, o quilo do produto atingiu a média de R$ 39,63, o valor mais alto já registrado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
A expectativa é de que os preços continuem a subir, uma vez que a seca de 2024 afetará a próxima safra, cuja colheita ocorrerá em meados do ano que vem. Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic, afirma que não há perspectiva de queda de preço até pelo menos março ou abril de 2025.
Fatores Climáticos e Impactos na Produção
A escassez de chuvas e o calor intenso têm impactado diretamente as lavouras de café. Desde janeiro de 2021, o preço do quilo de café subiu 157%, refletindo as dificuldades enfrentadas pelas plantações. As condições climáticas adversas, como estiagens e chuvas mal distribuídas, foram apontadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como fatores que reduziram as estimativas de produção para 2024.
Com a safra de 2024 sendo classificada como de “bienalidade positiva”, as projeções indicam uma colheita de 54,79 milhões de sacas, o que representa uma queda de 6,8% em relação às estimativas anteriores.
Pressões Globais e Aumento de Custos
Além das dificuldades locais, os produtores brasileiros também enfrentam pressões globais, uma vez que outros grandes produtores, como Vietnã e Colômbia, estão lidando com safras abaixo do esperado. Isso, combinado com o aumento da demanda mundial, tem contribuído para o aumento dos preços.
Os dados mostram que, em agosto, a saca de 60 kg do café robusta fechou em R$ 1.483,95, uma alta de 100% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando pela primeira vez o preço do café arábica.
A Nova Realidade para Produtores e Indústria
Para os produtores, essa situação gera um paradoxo: embora os preços mais altos possam compensar algumas perdas, a escassez de produto é uma preocupação constante. Felipe Maciel, da Fazenda Terra Preta, ressalta que ter um produto valorizado para negociar não significa necessariamente um cenário favorável, já que a produção é o principal foco.
A Abic destaca que a indústria deve se adaptar a uma nova realidade, onde a previsibilidade da produção de café é cada vez mais incerta. Com a competição acirrada em mercados internacionais, a estratégia de compra e estoque de café precisará ser revista para garantir a sustentabilidade do setor.
Com as condições climáticas e a dinâmica do mercado, a tendência é que o café continue a ser um item de alto custo no Brasil, exigindo atenção tanto dos consumidores quanto da indústria.