O uso de cadáveres para observação e dissecção é amplamente considerado o melhor método para o estudo da anatomia e para o treinamento de habilidades médicas e cirúrgicas, conforme defendido por instituições de ensino e sociedades médicas ao redor do mundo. No entanto, no Brasil, a doação de corpos para fins acadêmicos ainda não é uma prática popular, resultando na escassez de peças anatômicas nas universidades públicas.
Recentemente, a divulgação de cursos que utilizam cadáveres frescos para treinamento em técnicas de harmonização facial gerou um intenso debate nas redes sociais. Muitos usuários criticaram essa prática, questionando por que os corpos estão disponíveis para tais procedimentos estéticos quando há uma carência de doações para instituições de ensino.
Os especialistas explicam que o treinamento em cadáveres é essencial, especialmente para procedimentos que envolvem estruturas sensíveis do rosto. Os corpos utilizados nesses cursos são preservados através da técnica “fresh frozen”, que é considerada superior à conservação tradicional com formol, pois mantém as características do corpo humano mais intactas.
Os cadáveres frescos provêm principalmente de doações feitas em países como Estados Unidos e alguns da Europa, e não competem com os recursos das universidades públicas. A legislação brasileira proíbe a comercialização de corpos, e tanto universidades quanto centros de treinamento privados dependem de doações. Entretanto, o processo de importação e preservação dos cadáveres “fresh frozen” é dispendioso, limitando sua disponibilidade a instituições com orçamento mais flexível.
A UFMG é a única universidade pública que possui câmaras adequadas para a preservação desses corpos, enquanto outras instituições enfrentam dificuldades financeiras e estruturais para implementar programas de doação eficazes. De acordo com especialistas, a conscientização da população sobre a importância da doação de corpos é crucial para suprir a demanda de cadáveres para ensino.
Os cursos de harmonização facial que utilizam cadáveres frescos oferecem um treinamento mais realista e detalhado em comparação a simuladores e modelos. A prática de dissecação permite que os alunos compreendam melhor a anatomia e localizem estruturas vitais, minimizando riscos em procedimentos futuros.
O custo desses cursos varia, mas pode alcançar até R$ 15 mil, refletindo a complexidade do material e a reputação da instituição. Após o uso, os corpos são analisados para aprendizado e, posteriormente, incinerados.
A cultura de doação de corpos ainda é incipiente no Brasil. Existem atualmente 39 programas de doação, mas o número de doações permanece baixo. Para que o Brasil avance na formação de profissionais de saúde, é essencial promover uma maior aceitação social da doação de corpos e a importância deste gesto para a educação médica.