O azeite de oliva tornou-se um artigo de luxo no Brasil, em meio à disparada de preços causada pela intensa seca na Europa, que afetou drasticamente as colheitas de azeitonas nos últimos dois anos. Embora os olivais europeus comecem a se recuperar neste ano, a queda nos preços ainda pode demorar para refletir no mercado brasileiro, segundo Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
Com uma produção nacional muito pequena, o Brasil depende majoritariamente das importações, especialmente de Portugal e Espanha, que respondem por 44% e 14% de toda a importação nacional do produto, respectivamente. A seca severa impactou significativamente a Espanha, que viu sua produção cair 60% entre as safras de 2021/22 e 2022/23, passando de 1,5 milhão de toneladas para cerca de 600 mil toneladas.
No ciclo 2023/24, a produção se recuperou apenas parcialmente, alcançando cerca de 760 mil toneladas, conforme dados do Conselho Oleícola Internacional (IOC). Essa redução na oferta levou a um aumento recorde nos preços, com alta de 50% em junho deste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, encontrar uma garrafa de 500 ml de azeite por menos de R$ 40 nos supermercados de São Paulo é uma tarefa difícil.
Expectativas de Queda nos Preços
As projeções indicam que o preço do azeite pode começar a cair lentamente no Brasil a partir de 2025, com uma boa recuperação esperada para a safra de azeitonas que começou em outubro na Europa. Um relatório da Comissão Europeia prevê um aumento de 32% na produção de azeite em relação a 2023, alcançando 2 milhões de toneladas. A Espanha, o maior produtor mundial, deve contribuir significativamente com uma produção estimada em 1,4 milhão de toneladas na safra 2024/25, impulsionada por melhores condições climáticas.
Contudo, Vian alerta que mesmo com essa expectativa positiva, o Brasil pode levar meses para sentir os efeitos da redução de preços internacionais. “Até esse produto passar por todo o processo logístico e chegar ao consumidor, demora um tempo. Minha estimativa é que os preços não vão cair antes de meados de 2025”, afirma.
Desafios e Dependência Externa
Renato Fernandes, presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), destaca que a recuperação da produção europeia pode não ser tão rápida quanto o mercado espera. Além disso, as quedas nas colheitas de azeitonas são atribuídas a práticas de cultivo inadequadas. “É necessário rever algumas formas de manejo das oliveiras, que têm causado desequilíbrios ambientais e queda na produção”, observa.
Fernandes também enfatiza a importância do Brasil em reduzir sua dependência de azeite importado. Com apenas 7 mil hectares de oliveiras plantadas, ele ressalta que seriam necessários 1 milhão de hectares para garantir a autossuficiência. “O Rio Grande do Sul tem capacidade para isso, e se tivéssemos investido mais cedo em plantações de oliveiras, não estaríamos tão dependentes de países exportadores”, conclui.
Cuidados na Compra
Com o aumento dos preços, muitos consumidores buscam promoções nos supermercados, mas é importante tomar cuidado para não cair em golpes. O Ministério da Agricultura recomenda desconfiar de preços muito abaixo da média e evitar azeites vendidos a granel. Também é aconselhável verificar se uma marca já teve sua venda proibida ou se está na lista de produtos falsificados.