Um estudo recente publicado pelo National Center for Health Statistics, do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, revela uma discrepância alarmante entre o apoio social e emocional que os adolescentes afirmam receber de seus pais e a percepção desses pais sobre o que estão oferecendo. O relatório, que analisou dados da Pesquisa Nacional de Entrevistas de Saúde – Adolescentes, coletados entre julho de 2021 e dezembro de 2022, mostra que 27,5% dos adolescentes de 12 a 17 anos afirmam sempre receber apoio emocional de seus pais. Em contraste, 76,9% dos pais acreditam que seus filhos recebem o suporte necessário.
Os dados indicam que, enquanto 58,5% dos jovens dizem “sempre ou geralmente” receber o apoio emocional de que precisam, 21,6% afirmam receber “às vezes” e 19,9% relatam não receber apoio suficiente. Por outro lado, a grande maioria dos pais (93%) acredita que seus filhos sempre ou geralmente recebem o apoio necessário, criando um abismo entre as percepções de ambos os lados.
Consequências para a saúde mental dos adolescentes
O estudo sugere que essa lacuna pode ter implicações graves para a saúde mental dos jovens. O psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, alerta que essa desconexão pode aumentar o risco de problemas emocionais e comportamentais, como sintomas ansiosos, depressivos e distúrbios no sono. Ele explica que aqueles que não recebem o suporte social e emocional adequado têm uma maior probabilidade de enfrentar dificuldades de saúde mental e comportamentos de risco.
Kanomata também ressalta que a falta de apoio familiar pode levar ao distanciamento dos pais, problemas de autoestima, insegurança e dificuldades no relacionamento com outras pessoas, afetando até o desempenho acadêmico e, futuramente, profissional. Ele destaca que a comunicação entre pais e filhos precisa ser revista para evitar essas consequências.
A fase de desenvolvimento dos adolescentes e a importância do apoio
Adolescentes estão em uma fase de intenso desenvolvimento emocional e psicológico, onde a capacidade de avaliar suas próprias necessidades pode ser diferente da dos pais. Eles podem sentir que não estão recebendo apoio suficiente ou, por outro lado, não reconhecer quando o suporte é oferecido de maneira que não consideram útil. A busca por maior autonomia e independência também pode causar distanciamento entre pais e filhos.
O psiquiatra explica que é comum que transtornos mentais e comportamentos de risco, como o uso de drogas ou automutilação, passem despercebidos pelos pais, até que se tornem mais graves. Por isso, ele enfatiza a importância de manter um canal de comunicação aberto, sem julgamentos, para garantir que os adolescentes se sintam acolhidos e protegidos.
Quando procurar ajuda profissional?
Kanomata orienta que, se sinais como sofrimento intenso e prolongado, dificuldades em manter atividades diárias, alterações de humor, isolamento social, alterações no sono e no apetite, atitudes pessimistas, sinais de automutilação ou pensamentos suicidas, e uso de substâncias estiverem presentes, é essencial procurar ajuda profissional.
“O apoio emocional adequado pode fazer uma grande diferença no desenvolvimento dos adolescentes. Este estudo serve para promover reflexões importantes e sugerir mudanças, incluindo políticas públicas focadas na saúde mental e na educação dos jovens”, conclui o psiquiatra.